Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

03 agosto, 2005

Valores

“O projetista de calderaria Antonio Fernando Rodrigues, 53 anos, devolveu uma mala com R$ 200 mil em dinheiro, cheques e notas promissórias que encontrou no trem que liga São Paulo e Jundiaí.
O caso ocorreu na semana passada na estação ferroviária de Francisco Morato. O projetista seguia para o trabalho quando encontrou a mala em um banco do trem. Ele a levou para casa e decidiu devolver ao dono, um consultor financeiro, que foi descoberto por meio de um cartão que Rodrigues encontrou na mala.
O consultor diz ter esquecido a mala pois se distraiu mexendo em um aparelho de celular que havia acabado de ganhar e que foi perceber o ocorrido quando estava chegando em casa.
Rodrigues disse que em momento algum pensou em ficar com o dinheiro. Ele recebeu uma gratificação de R$ 110”
(Portal Terra – 03/08/05)

Vez por outra aparecem essas notícias de honestidade incondicionada, na semana passada mesmo, o operário-meu-patrão muna de suas investidas populares emergenciais, aproveitou-se da imagem daquele cidadão da Infraero de Brasília, aquele que se não me falha a memória achou R$ 50.000,00 e devolveu, de tão surpreendente sua ação virou até garoto propaganda do publicitário-rinheiro.
Reflito sobre a importância e de como se tornou artigo de luxo a qualidade “ser honesto” no Brasil.
As notícias que nos chegam são permanentemente no sentido a “se dar bem” e, quando surgem pessoas que abandonam o senso comum, são tratadas como heróis nacionais ou no mínimo pessoas de destaque.
No outro dia mesmo apareceu no Fantástico uma matéria onde um casal encontrou uma máquina fotográfica digital e lá estavam registrados momentos de outra família. O casal verdadeiramente investigou até encontrar os legítimos donos da máquina e a devolveu, tudo em horário nobre da Globo no domingo.
Nossa sociedade nas exceções vem firmando a regra geral do individualismo e da ganância, da riqueza a qualquer preço e da vantagem em curtíssimo prazo.
É mais fácil a Capitu dos “laços de família” ser prostituta que vendedora ou estagiária a preço vil.
É mais vantajoso ser filho de pai rico e bandido que de pai pobre honesto.
Cito agora versos de Petrônio que questionava valores de época em Satiricon, já no primeiro século da era cristã, que de tão atuais ainda nos colocam envergonhados:

Quem confia no acaso do mar amontoa lucro imenso;
Quem segue as armas e a guerra pode cingir-se de ouro;
O adulador barato deita-se bêbedo em leito púrpura;
O devasso ganha dinheiro com o adultério.
Só a eloqüência trema esfarrapada no inverno,
E desvalida invoca as artes desprezadas.

4 comentários:

Paola de Andrade Porto disse...

O pior que andando na rua você escuta os comentários do povo:
“- a pindaíba que eu estou, se eu encontrasse essa mala... é ruim, não devolvo mermo!!!”

Elaine disse...

Paola, o povo muitas vezes fala aquilo na verdade não sente. Eu sei que muita gente não devolveria, mas acredito que uma parte da população devolveria sim. É que o Brasil tem a famosa e história "Lei do Gerson" "lei" essa que até hoje incomoda muita gente de bem. A grande verdade que tanto um como outro, não fez mais do que sua obrigação.
Sds

Anônimo disse...

Não estou fazendo estágio prá " Anjo " e nem reservando " um cantinho no céu " , se não é meu , tem mais é que devolver , assim como eu gostaria , ter o meu tbm devolvido , não importa se for uma " mala de dinheiro" ou apenas um brinco de bijuteria .
Que pena ,que saia na manchete dos jornais ,honestidade como coisa rara .

Ricardo Rayol disse...

Alguem conhece um sujeito que coloca 200 mil numa mala e vai andar de trem? Muito estranho não acham? Aí tem. Nessa lógica eu não devolvia não e que se dane.E outra, vai ser pão-duro assim na pqp.