Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

11 dezembro, 2011

O tema sempre provoca polêmica, considerações desprovidas de fundamentação, conceitos extravagantes, envolvidos numa aura de mistério e misticismo, demonstrando que não sabemos bem quem são essas pessoas, que se reúnem para tratar de assuntos mais desconhecidos ainda.

Notadamente, algumas publicações, aqui e acolá, trazem alguns subsídios, porém, mesmo assim existe uma grande distância entre o que é fato e fantasia.

Pois bem, o jornal “Diário de Notícias” português, em novembro fez uma interessante matéria investigativa, traçando o grau de influência da maçonaria daquele país e seu trânsito pelos corredores do poder; ao todo foram quatro dias com variadas abordagens que terminou com uma mesa de debates.

Deixo o link para acesso as fotos das páginas da primeira matéria, quem tiver a curiosidade é só clicar aqui, sugiro depois de baixar, ir ampliando as imagens para conseguir fazer a leitura; as outras edições estão disponíveis na internet.

Em pleno século XXI, para alguns, na vigência de uma pós-modernidade, ainda subsiste uma organização moldada conforme valores do século XVIII, que por mais que se fale, poucos a conhecem.

07 dezembro, 2011

Uma política democrático-deliberativa para o trânsito da cidade

Esta semana por duas oportunidades tive bons diálogos com dois amigos pelo Facebook, assunto: o caótico trânsito de Niterói.

Sem dúvida ambos estão certos, quando reclamam, por um lado que é impossível de levar 25 minutos para percorrer 4 km da Ponte até a Moreira Cesar em Icaraí; ou, que “Estou parado a 20 minutos na cabine do via fácil da ponte sentido BR e Alameda que se encontra funcionando no sistema pare/siga por conta do engarrafamento da Alameda”.

Eu mesmo, ontem postei uma foto de um trator na hora do rush, pela manhã, trafegando tranquilamente pelas ruas do Centro, inadmissível para quem quer ordenar um trânsito pelo menos aceitável, numa cidade de porte médio para grande, onde para cada dois habitantes existe um automóvel.

Ao amigo de Icaraí ponderei que eu mesmo “sai do Rio sexta-feira 17:10 e cheguei no pedágio 19:50, só de perimetral uma hora e quinze, pena que não posso falar do Paes ou da Cet-Rio, já que não moro lá. Foi a infeliz escolha que fizemos há 50 anos, quando algum gênio da lâmpada nos convenceu que transporte de massa era o automóvel, hoje temos ruas projetadas no final do século XIX comportando uma população de século XXI, com transportes individuais e egoístas. Bem faz Londres, que cobra um pedágio de 7 Libras pra se entrar de carro na cidade; imagina se alguém adota isso aqui, dava até revolução.

Por sua vez, também muito bem articulado, o amigo argumentou que “tudo bem. Só duas observações: sexta-feira, 17:10h é complicado em qualquer cidade do Brasil (diferente de terça-feira, 16:30h) e a lentidão na Perimetral é consequência da lentidão da Ponte, que é consequência da não duplicação da Av. do Contorno, que é culpa da PREFEITURA DE NITERÓI...

Finalizamos nosso diálogo com um comentário meu: “Sabia que no dia da inauguração da Av. do Contorno eu a atravessei com meu pai andando, lembro como se fosse hoje, eu tinha uns 7 anos, ufa, já vai tempo; lembro bem dela, tinha a mesma largura e tamanho, só que terminava no Barreto, não tinha nenhum gênio acoplando no final dela uma rodovia federal com ligação para uns 5 municípios de importância demográfica significativa, mas isso já vai tempo, até porque, São Gonçalo com uma população de quase 1 milhão de habitantes, que tem que passar por Niterói, por falta de opção tem que realmente estar no planejamento do município de Niterói, mesmo que não invista um centavo nisso.

Hoje foi a vez do comentário do outro amigo, que pelo que parece, mora em Maricá e é obrigado a passar por Niterói como acesso para sua cidade e ficar parado na Ponte esperando para atravessar a Alameda, constantemente congestionada.

Ao segundo amigo, como forma de incentivar um diálogo cidadão participativo, provoquei: “Você tem mostrado que é um bom observador do trânsito de Niterói, acho que está na hora de dar algumas opiniões concretas... vamos lá, qual suas idéias ou uma solução concreta a ser aplicada?

Obtive a resposta, inclusive pelo que andei pesquisando, faz parte de um projeto do governo estadual: “Um viaduto ligando a ponte a Caixa D' Água, o que era pra ter sido feito, no lugar dessa obra, que liga "nada a lugar nenhum". A [sic] pouco tempo, tomei conhecimento que prefeitura estar estudando essa possibilidade.

Por fim, provoquei este parceiro, novamente com questões que se apresentam a ser resolvidas: “Quanto custa amigo? De quais organismos financeiros estamos falando, nacional, internacional? Tempo estimado da obra? Quais municípios pagaram pelo financiamento da obra, os que se beneficiam ou somente Niterói deve arcar com esses valores?”

Essa é a questão, o problema parece que não é local, é de interesse intermunicipal. Niterói sempre foi cidade de passagem para o Rio de Janeiro, assim como a Ponte que liga as duas cidades, portanto, no meu modo de ver, o problema do trânsito da cidade só terá alguma solução racional, se todas as partes interessadas e envolvidas sentarem-se na mesma mesa de negociações onde cada um possa racionalmente, em condições de igualdade como falantes, em intersubjetividade, apresentar suas expectativas e interesses e, principalmente, a sociedade civil organizada, representantes dessas comunidades, possam influir como concernidos na deliberação das soluções, visando chegar não a um acordo mero, mas a um consenso de suas pretensões

A participação democrática ativa, não aquela de quem simplesmente outorga poderes em aberto aos gestores públicos, mas que se faz presente, propondo e decidindo, me parece o único caminho para enfrentar além da questão do trânsito, inúmeros outros que se apresentam e geram permanente estado de tensão; assim, além de cidadãos deliberativos, nos tornamos executores de projetos legítimos e mesmo fiscais de suas execuções.

09 outubro, 2011

Prenúncios do Armagedom ou simplesmente, TPM

É certo, que nenhum homem espera café na cama, flores na bandeja ou mimos especiais, na manhã seguinte de uma noite gastronômica, alcoólica e sexual, performaticamente memorável, a propósito, e, ainda que, todas com os devidos pratos principais e sobremesas avidamente degustados, não necessariamente nessa ordem.

Todavia, com o decorrer do dia, alguns sinais começam a ficar mais característicos, significativos e denunciadores do tsunami que se forma numa linha de horizonte ainda não alcançável por nossas vistas; também a propósito, dizem alguns, que os pássaros prenunciam o terremoto e fazem solene silêncio antes de suas ocorrências, ou urubus voam em círculo antes da chuva, assim como, outros animais se aninham em sinal de respeito à natureza que se imporá diante de sua devastadora imponência.

Pois é, meninos e meninas, brasileiros e brasileira, companheiros e companheiras, amigos e amigas, nessa hora pouco importa o tratamento a ser dispensado ao seu interlocutor, a questão é que diante do incêndio constatado, duvido muito que isso seja o mais importante a se relevar, quando na verdade o máximo que se pode gritar é “FOGO, FOGO, FOGO!”

Tensão Pré Menstrual, esse é o nome da síndrome, doença, hecatombe..., que acomete algumas mulheres inevitavelmente todos os meses, verdadeira batalha dos sexos, onde embora as aves não silenciem, os animais não se aninhem, ou os urubus não voem em círculo previamente, é inevitável seu acontecimento.

Para os menos experientes, alguns sinais, sintomas ou manifestações, são lidos equivocadamente como um mero um mau humor feminino injustificado, ou coisa de gente destemperada, desequilibrada e imprevisível, porém, após meio século a bordo dessa existência terrena, tenho aprendido, que contra a natureza, assim como diante de uma mulher com seus hormônios alterados, não há argumentos racionais que se imponham. Quando o terremoto estremece o chão, não há outra coisa que fazer, senão equilibrar os copos e pratos e torcer por uma magnitude complacente.

Talvez a grande dificuldade masculina esteja em saber o preciso momento em que, no universo feminino, 2 + 2 não somam 4; ou, porque os bombons se tornam mais deliciosos; ou, porque aquele vestido querido sai de moda; ou, porque uma simples indagação de “onde está meu celular”, possa se transformar em uma declaração de guerra de proporções continentais. Na verdade, amigos e amigas, brasileiros e brasileiras, companheiros e companheiras, esses já são sinais que a TPM chegou, assim como outros, silenciosos, guardados nas mentes femininas, que, porém, se expressam durante o dia através de hieróglifos, desvendáveis para alguns somente através da utilização da Pedra Roseta.

Embora na sua maior parte, os sintomas da TPM fiquem escondidos nas curvas das esquinas, em tocaia, aguardando para nos surpreender ao menor descuido e deslize de atenção, alguns são tão evidentes que denunciam toda a conspiração da natureza, para aquele(s) dia(s) de destruição da obra criadora.

Você descobre que uma mulher está entrando na TPM (ou está dentro), quando ela “rosna” para a vizinha de assento no teatro ao final de cada piada, só porque sua limítrofe de assento não riu de uma piada, que embora ela própria tenha gostado, também não moveu um músculo sequer do rosto para demonstrar tal satisfação. Isso sem contar da total falta de atenção com a peça, porém, inacreditavelmente, sua algoz mensal prestou atenção em outra mulher sentada três lugares de distância, coitada, vítima dos mais infames comentários ao fim do espetáculo.

Algumas coisas devem ser deixadas para se fazer em outra oportunidade, por exemplo, jamais tente a mirabolante façanha de reservar pela internet, hotel para férias e vôos; é nesse momento que você descobre que a voz de sua amada pode atingir 50 decibéis acima do normal, num papo onde você a princípio supõe que a felicidade possa estar sendo agendada.

Jamais diga a frase: “amor, por favor, fale mais baixo”, até porque a resposta virá um tom acima do que já estava e, poderá resultar noutra declaração de guerra: “é você quem está brigando comigo”, quando na verdade, você simplesmente esteja tentando, embora de maneira inútil, mostrar que há diferença de preços ente o “pacote” ida e volta e somente a “volta” pela companhia aérea.

Transferência de pontos do cartão de crédito para milhagens aéreas, nem pensar. Se para qualquer ser humano, ouvir aquela “musiquinha” de espera para ser atendido irrita, imagine para uma mulher de TPM? O pior que o atendente do cartão tem sempre a opção no final do atendimento, de desligar a conversa, quanto a nós...

Uma última dica, nunca, nunca mesmo, no final da noite pergunte para sua companheira, ainda que todas as suas desconfianças já lhe anuncie uma resposta mais precisa: “amor, que dia você vai ficar menstruada?”, você com certeza ouvirá uma resposta seca e pontiaguda: “não sei, mas quando você vai ficar também?”

29 setembro, 2011

“Princípio da necessidade fatal” - Todo mito tem um preço a pagar

O imaginário coletivo, produzido, instigado ou alimentado pela indústria cultural, não raramente se esboroa diante dos fatos; acontece, que a realidade nem sempre coincide com as figuras míticas forjadas nas telas, telinhas e telões da indústria cinematográfica; não poderia ser diferente no caso da série que consagrou em específico, um grupamento da Polícia Militar do Rio de Janeiro

O “Capitão Nascimento” – que embora não exista de fato – “osso duro de roer”, desenhados com contornos de herói tupiniquim, comandante de uma “tropa de elite”, serviu de inspiração para muitos, naquilo que passou a ser a resistência contra o crime organizado, expresso inicialmente nos favelados e miseráveis traficantes (Tropa I), ou nos organizados milicianos, fardados, engravatados palacianos (Tropa II); herói de fato, aplaudido no uso de “técnicas” recrimináveis, sob o ponto de vista da legalidade e cidadania, entretanto, encontrou sua legitimidade no “interesse maior da sociedade”, velha fórmula desgastada através da história, para justificar todos os abusos cometidos pelo personagem.

Embalado em empolgante trilha sonora e no prestigio popular, atingido após as duas edições de suas estórias romantizadas, onde os personagens foram apresentados como verdadeiros neo-espartanos combatentes, o Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o BOPE, passou a ser um ideal policial para a grande massa da sociedade, símbolo de fetiche, fazendo-se detentor de única alternativa ao caos instaurado no sistema de segurança.

Homens viris; forjados nos mais duros treinamentos diários; batizados com o sangue e a pólvora do combate das ruas; fardados na suposta neutralidade política, tal como a cor de seus uniformes; e, simbolizados pela insígnia da faca encravada na caveira, os “homens de preto” que tem como missão, “entrar pela favela e deixar corpos no chão”, passaram a habitar um ideal coletivo de última esperança contra o mal.

Mas entre o filme e o fato, há muito mais distância do que se pode perceber ou se permita deixar ver. Não é novidade a utilização de simbolismos ou personagens épicos que concentre toda força dominadora da natureza ou redentora dos combalidos; de Apolo, guia do sol na sua trajetória diária, até o Capitão América, herói da modernidade patriótica, sempre há o mito, todavia, o que normalmente os contadores de suas estórias deixam de mostrar é o “princípio da necessidade fatal, que traz a desgraça aos heróis míticos e que se desdobra a partir da sentença oracular como conseqüência lógica formal” (ADORNO, Dialética do Esclarecimento). Todo mito tem um preço a pagar.

As recentes notícias que circulam, dando conta do envolvimento do Tenente-Coronel Claudio Luiz Silva de Oliveira, acusado de ser o mentor intelectual da morte da juíza Patrícia Acioli, em decorrência, tendo sido decretada sua prisão cautelar; bem como, conforme também noticia a imprensa, seria o Ten. Cel. líder de uma rede criminosa instaurada atrás dos muros do 7º Batalhão da Polícia Militar, em São Gonçalo/RJ; ainda conforme a imprensa, beneficiado pelo instituto da “delação premiada”, um cabo PM, subordinado do referido comandante, teria revelado uma extensa rede de crimes, enumerando corrupções, assassinatos e partilhas, daquilo que nominou de “espolio” dos objetos apreendidos, nas operações realizadas por aquela Unidade Policial Militar. É parte do preço devido pelo mito.

Em comum com mais esse lastimável episódio, os “homens de preto” se esbarram com o Ten. Cel. investigado, por força de sua qualificação especial; de forma emblemática, o oficial é mais um dos formado nas fileiras do BOPE que apresenta possível “desvio de conduta” (de fato, pela décima terceira vez é investigado por suposto envolvimento desviante); por fim, registre-se, a prática do atual governo do Rio de Janeiro em indicar oficiais com formação nesta Unidade Especial, medida legitimadora dos comandos de batalhões, entretanto, ao mesmo tempo, nomeando subcomandates sem essa formação cinematográfica, o que na prática policial representa que os segundos são os encarregados diretos pela parte operacional. O brilho das estrelas hollywoodianas ainda encanta a assistência emocionada, tal como John Wayne fazia nos filme do velho oeste.

Caminhando para o fim dessa breve exposição, a questão não se trata de desmoralizar ou denegrir a imagem da instituição de forma simplista e simplória, muito menos, generalizar condutas ou apagar méritos que possa haver na sua concepção ou no caráter de seus agentes; o que está em jogo é a desmitificação de heróis forjado em torno de um imaginário, produzido a serviço do poder estabelecido, que, de forma seletiva, indica inimigos a se perseguir, ainda que muitas vezes isso possa significar o uso de métodos criminosos para obtenção de seu resultado. Não, o Estado não pode ser criminoso, igualando-se àqueles que julga combater, sob pena de cair numa contradição performativa, ou seja, tudo aquilo que dizem combater é exatamente aquilo que praticam.

No Estado de Direito a regra da lei é inflexível, ainda que os discursos emocionais, fabricados de forma tendenciosa e oportunista, muitas vezes encubram seus reais objetivos. Com lema bastante sonoro e rimado, o BOPE tem seu refrão, “pega um pega geral, também vai pegar você”, porém, prestigiando-se tal ilusão de “justiça”, acaba-se autorizando comportamentos outros que em dado momento se voltam contra a própria sociedade.

O BOPE não tem culpa pela morte da juíza Patrícia, mas tem culpa por inúmeros outros crimes praticados “em nome da lei”; o possível envolvimento do Ten. Cel. demonstra que a simples esperança mitológica na formação dos “homens de preto”, não justifica a emissão de um “cheque em branco” para qualquer tipo de prática, sob pena de um dia todas as práticas criminosas, que hoje já se exercita contra os “escolhidos” do sistema, se voltem contra toda a sociedade; se hoje a seletividade criminal já não pode ser admitida, ao contrário, deve ser repudiada, a generalização e expansão desse universo nos encaminham à barbárie.

23 setembro, 2011

Porque não vou ao Rock in Rio 2011

Woodstock representou entre tantos significados, um movimento contracultural de resistência a um domínio imperial, pretendido a se instaurar no mundo a partir de uma disputa bipolar, envolvendo dois eixos ideológicos, capitaneados pela então URSS e EUA, que buscavam expansão de suas influências hegemônicas, nos idos da sexta década do século passado.

Um bom argumento sobre a história do evento pode ser encontrado no filme, “Aconteceu em Woodstock”; também não faltam informações disponíveis na própria internet; particularmente recomendo o filme, lá se pode entender todo o processo de realização do encontro, sem que, contudo, o principal personagem tenha assistido a uma apresentação sequer. Fica a dica para o fim de semana, para você, que também não vai ao RR 2011.

De 1969 pra cá, todos tentam de alguma maneira copiar a fórmula aglutinadora, que na ocasião, reuniu mais de meio milhão de pessoas numa fazenda, no interior do estado de Nova York, para assistirem a um festival inicialmente anunciado como "Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música", mas que, porém, não conseguem o magnetismo que estava presente na ocasião.

Também pudera, como reunir novamente num só evento, gente do calibre de Janis Joplin, Creedence, Santana, The Who, Joe Cocker, Johnny Winter, Edgar Winter, Jimi Hendrix, além de outras duas dezenas de não menos especiais músicos, bandas e cantores; isso sem contar as próprias condições históricas, que motivavam as cabeças transformadoras e encaracoladas dos hippies e alternativos.

Nessa busca pelo inatingível, surgiu o Rock in Rio, lá na década de 1985, organizado por Roberto Medina, empresário do meio artístico, que conseguiu com um projeto audacioso reunir um público total estimado de 1,5 milhões de pessoas, que embora expressivamente maior que Woodstock, representavam os vários públicos dos nove dias do evento.

As bandas, cantores e músicos na sua primeira edição foram escolhidos com um padrão e critério, bastando ver as atrações que se apresentaram: AC/DC, Iron Maiden, James Taylor, Ozzy Osbourne, Rod Stewart, Yes, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Eduardo Dusek, nomes que servem para mostrar o “naipe” do encontro.

O Rock in Rio I, tinha esse espírito inicial, embora não nos enganemos, a família Medina arriscava em mais um negócio, desta feita, num empreendimento realmente grande, também não tenho dúvidas em afirmar, que eles imaginassem as proporções comerciais consagradas na magnitude atual; por outro lado, de forma crítica, não podemos perder a perspectiva do negócio que se formou, próprio da “indústria cultural”, já denunciada por Adorno e Horkheimer na década de 1944 (“O que é o esclarecimento”), é nisso que se transformou o Rock in Rio, nada além de um grande show, com vários e vários artistas, dos mais diferentes segmentos e estilos, portanto, feito para agradar a todos, porém, sem uma identidade.

Observando a grade de programação do RR 2011, me assusto ao ver misturado em uma só “pajelança”, nomes como os de Claudia Leite, Elton John, Rihanna, Sepultura e Stevie Wonder, só para ilustrar. Sem preconceitos, mas o que falta ai é identidade com o rock, isso não tem cara de festival de rock, é um grande encontro, que para ser encarado, deve-se usar no mínimo de uma seletividade identificadora, o que por suas proporções e distribuição pelos diversos dias, fica impraticável diante de um custo não tão barato.

O RR 2011 é isso, vários artistas, concentrados em um só momento, em um só lugar, porém, que sequer uns saibam da existência da “obra” dos outros, lhes falta um objetivo comum, pior, existe um único objetivo, cahês polpudos pagos pela mega organização do evento, que já na origem tinha o mesmo propósito, mas que com o passar dos anos, se deixou seduzir pela parceria existencial com a Rede Globo, influente instrumento da mídia nacional, capaz de paralisar uma cidade inteira para garantir seus ganhos, até porque, num círculo autoreferencial, a Globo cria o evento, convence que é bom, trafega nas vias do poder público e depois vende em embalagem platinada e esterilizada seu produto.

Não é saudosismos ou revive de um Woodstock, que não acontecerá mais, mas é por pura coerência com a própria história do rock e seu significado libertador de toda uma geração, que tolida de sua expressão usava da música e da arte em geral, para expressar suas angustias pela paz, pelo amor e pela liberdade. É por isso que encho a boca para dizer “Eu não vou ao Rock in Rio 2011”

17 setembro, 2011

Vocês conhecem o Clarimar?

Com 83 anos, pilotando sua Harley-Davidson, modelo Electra Glide ano 78 - devidamente equipada com uma marcha ré - nosso amigo Clarimar é o motociclista em atividade mais antigo no Rio de Janeiro, isso porque, desde 1947, quando comprou sua primeira Harley na então Mesbla de Niterói, não mais abandonou o “vício”, passando a registrar desde então, mais de 80 mil quilômetros percorridos pelas estradas asfaltadas e da vida.

É assim que se define Clarimar, que já teve entre outras, uma Panhead Harley e uma Deluxe 1600 cilindradas mais recentemente: “Ando de moto desde os 16 anos. Hoje, quando subo na moto, esqueço que tenho 80 anos. Parece que voltei a ser jovem. Me transformo em jovem de novo”.

Pois é, além de “harlista’, Clarimar me traz outra profunda e deliciosa recordação. Nosso eternamente jovem estradeiro foi parceiro de motocicleta do meu pai, numa época em que a diversão dos motociclistas era passar com uma Harley, de mais de 300kg, por sobre os trilhos dos bondes pela maior distância possível; numa época que se fazia graça trocando piloto e passageiro com a moto andando, em plena praia de Icaraí, só para chamar a atenção das meninas, que enlouqueciam com os loucos audazes; numa época que se saia para um fim de semana sem destino e esse fim de semana nunca terminava.

Hoje dei novamente um abraço no Clarimar, foi lá no café da manhã da Rio Harley-Davidson, no Recreio dos Bandeirantes; lúcido como sempre, não deixou de falar do seu “parceiro predileto”, meu querido Ozéas (pai); foi uma manhã especial para mim, matei a minha saudade, na saudade viva que me abraçou. Retrocedendo no tempo podemos constatar que o tempo não passa, mas as pessoas é que transitam por ele, porque as histórias se repetem, as paixões são as mesmas e, as memórias se materializam nas amizades que deixamos.

09 setembro, 2011

Dez anos que não se passaram

Depois de amanhã, muita gente vai postar várias observações quanto aos dez anos do onze de setembro; o que já está acontecendo nos principais portais da internet.

Nos mesmo dez anos passados, li um texto que me causou um impacto semelhante ao impacto nas torres gêmeas, mas que, porém, mesmo depois de tanto tempo, continua reflexivamente atual.

Não vou esperar dois dias, até porque acho que o Fritz Utzeri merece certo destaque.


Jornal do Brasil - 17/09/01-FRITZ UTZERI

Quem cria lobos...

''Mamãezinha, minhas mãozinhas vão crescer de novo?'' Jamais esquecerei a cena que vi, na TV francesa, de uma menina da Costa do Marfim falando com a enfermeira que trocava os curativos de seus dois cotos de braços. Era uma criança linda, de quatro anos, a face da inocência martirizada e que em seu sofrimento não conseguia imaginar a extensão do mal que lhe haviam feito. Não entendia e ainda tinha esperanças.

E não era caso isolado. Milhares de crianças daquele país foram selvagemente mutiladas por... (como qualificar quem faz isso?) ...em conseqüência de mais uma guerra, resultado tardio do colonialismo, ao criar na África países inviáveis abrigando etnias rivais, exacerbadas pelos colonizadores e massacrando-se com armas que sua gente não produz, vendidas por americanos, russos, europeus, israelenses e outros ''civilizados'' de boa consciência e que avaliam seus lucros em lugares como o World Trade Center. Isso para não falar do Pentágono.

Justifica-se um atentado terrorista como o de Nova Iorque? Jamais! Temos visto, dia após dia, pela TV, cenas de destruição, tristeza e desespero. Os aviões continuam entrando nas torres provocando uma espécie de anestesia e de vidogueimezação muito comuns à nossa era eletrônica e voyerista. Fala-se em ''ataque à civilização'' e dá frio na espinha ouvir o semitonto presidente Bush falar em ''eliminar'' nações. Estamos todos tristes, mas tristeza e indignação são grandes porque os atentados ocorreram em Nova Iorque. Já estive várias vezes naquelas torres como turista ou a trabalho. Não gostava delas, mas eram uma referência. É estranho imaginar que não estão mais lá. Dói.

Mas veja uma foto de Cabul, a capital desse Afeganistão mártir de guerras que não são suas e vítima do mais terrível fanatismo religioso. É uma ruína só. Parece aquelas cidades arrasadas na Segunda Guerra, para não falar de Hiroshima e Nagasaki. Mas como em Cabul não há Quinta Avenida nem Central Parque, e como ninguém vai lá comprar tênis, videogames ou dar uma esticada depois de passear na Disney, ninguém se lixa para os milhões de mortos que quase 30 anos de guerras infringiram àquele triste lugar.

A verdade verdadeira é que não somos todos iguais. Uma bomba em Nova Iorque, em Londres ou em Paris desperta a dor do mundo. Mas quando tutsis e utus se trucidam em Ruanda, e morrem 1 milhão de africanos numa guerra, o assunto é pé de página dos jornais e os negócios das industrias de armas continuam de vento em popa. Que tal fazer cadeia mundial da CNN para mostrar freiras e padres negros mandando homens, mulheres e crianças entrarem em igrejas e depois darem gasolina para que soldados de etnia inimiga toquem fogo e assem todos vivos? Quem sabe aí o sangue de um negro, de um afegão ou de palestino possa se aproximar um pouco do valor do sangue ''civilizado''?

A grande verdade é que o mundo em que vivemos foi largamente forjado por essa ''civilização'' que agora se diz atacada e clama contra a barbárie. Quem cria lobos não espere viver com ovelhas. Bin Laden é made in USA, treinado e financiado pela CIA. O mesmo vale para o Talibã, milícia perversa e ginecófoba. E quem criou Saddam Hussein, hoje inimigo mortal dos americanos? Quando geraram esses lobos, durante a Guerra Fria, para lutar contra uma ideologia política, os alquimistas da inteligência (?) americana alimentaram uma ideologia religiosa e soltaram o diabo da garrafa. E agora?

Ao longo da história, o homem ''civilizado'' globalizou todas as suas mazelas. A Europa nos explorou vergonhosamente. Ouro do Brasil e prata da Bolívia financiaram a revolução industrial a custo zero. Exterminaram povos que aqui viviam, escravizaram milhões de africanos e chegaram a fazer guerra aos chineses para obrigá-los a fumar ópio. O século 20 foi uma seqüência de genocídios. Em nosso continente uma sucessão de ditaduras sangrentas, sustentados pelo Big Stick, só geraram morte, fome, injustiça social, atraso e dependência. No Oriente, essa política arrogante e predatória transformou o islã, uma religião de paz e tolerância, dando origem a um fanatismo doentio e letal que não encontra guarida ou justificação no Corão, envolvendo parte dos muçulmanos numa ''guerra santa'' (Jihad) de pobres contra ricos, pessoas dispostas a imolar-se e que acreditam numa recompensa eterna por seus atos. Eles têm uma fé, por mais doentia que seja, e dão a vida por ela. O que temos nós a contrapor a gente assim? Nós, hedonistas, materialistas, cínicos e poderosos. Cristãos de nome, mas incapazes de aprender ou de seguir um só versículo do que disse Jesus. O que nos tornamos? Que mundo construímos?

Na era da globalização, em que o neoliberalismo institui o deus mercado que tudo resolve, surgem os efeitos demonstração. Primeiro: o Estado é fraco, impotente. É possível hoje a um grupo de indivíduos determinados pôr de joelhos o maior poder sobre a Terra. Basta saber pilotar, arranjar alguns estiletes, armas vulgares, de revolta de cadeia e dar início ao apocalipse. Quem é o inimigo? O que vai fazer Bush? Arrasar o Afeganistão? Matar centenas de milhares de inocentes? Invadir o Indo Kush, onde se refugia Bin Laden e levar à morte milhares de jovens americanos? Indo Kush quer dizer matador de indianos. Ali, ao longo dos séculos, desapareceram impérios inteiros. Foi nessas terras quase lunares que Alexandre enlouqueceu e morreu acreditando-se um deus.

O segundo efeito é a globalização da guerra. Desde a batalha de Gettysburg, na Guerra Civil, que os Estados Unidos, não sabem o que é ter conflito em casa. Para eles a guerra só chegava pelo cinema, pela TV, como no Vietnam, ou ainda pelas bandeiras envolvendo os caixões dos jovens soldados mortos além mar. Cresci com minha mãe contando como corria para salvar-se de 1.500 bombardeiros americanos e ingleses que vinham despejar sua carga assassina contra Berlim em 1944. Três vezes por dia! Era horror puro. O mundo estava em guerra, o nazismo era o mal absoluto e tinha de ser erradicado, mas os aviões não queriam aniquilar chefões nazistas, tropas ou objetivos militares. Queriam era matar a minha mãe e os milhões de cidadãos de Berlim que nada tinham com os crimes do nazismo e que só podiam correr e rezar.

Talvez estejamos apenas assistindo ao começo de um ciclo que poderá nos levar de volta à barbárie. Hoje o terror usa aviões, amanhã poderá usar bombas atômicas ''esquecidas'' em contâineres. Não há limites para a irracionalidade humana. Mas entrando no caminho do ''olho por olho'' vamos todos acabar cegos, segundo dizia Gandhi. E não nos iludamos. A história da humanidade não é uma linha ascensional contínua em direção à luz ou à razão. Podemos muito bem caminhar para trás, apesar (ou talvez por causa) de nossa imensa tecnologia e nosso poder. Roma e o mundo romano em seu auge eram muito melhores do que a Europa em grande parte da Idade Média.

Como manter a paz num planeta onde boa parte da humanidade não tem acesso às necessidade básicas mais elementares? Como impedir que os que vivem um cotidiano de guerra e destruição, de sangue e ódio, sentindo-se oprimidos e injustiçados, não comemorem? Como reduzir o abismo entre o camponês afegão, a criança faminta do Sudão, o Severino da cesta básica e o corretor de Wall Street? Como explicar ao menino de Bagdá que morre por falta de remédios, bloqueados pelo Ocidente, que o mal se abateu sobre Manhattan? Como dizer aos chechenos que o que aconteceu nos Estados Unidos é um absurdo? Vejam Grozny, a capital da Chechênia, arrasada pelos russos. Alguém se incomodou com o sofrimentos e as milhares de vítimas civis, inocentes, desse massacre? Ou como explicar à menina da Costa do Marfim o sentido da palavra ''civilização'' quando ela descobrir que suas mãos não crescerão jamais?

Fritz Utzeri é jornalista

07 setembro, 2011

Visitando a Bienal (dicas de sobrevivência)

Ontem resolvi dar um passeio pela XV Bienal do Livro, que está acontecendo até dia 11 no Riocentro, Barra da Tijuca.


Deixando algumas coisas bem claras: 1) não gosto desse tipo de evento, até porque, bienal de livro soa para mim com uma conotação que livro deve ser visitado a cada dois anos, assim como a gente vez por outra se lembra, que existe um zoológico na cidade, o que por sua vez não nos torna biólogos, com nossos olhares curiosos e espantados em nossas visitas esporádicas; 2) não gosto desse tipo de evento, onde se aglomeram as pessoas em multidão, creio, honestamente, que toda multidão passa por um processo de mediocrização instantânea, mais ou menos, como se todos os neurônios presentes na ocasião se tornassem num grande sistema pensante, porém, com o equilíbrio mediano de seus contribuintes de suas inteligências, infelizmente, multidão e livros no Brasil, não são coisa tão intimas e harmônicas, me causa certa reserva ver uma pessoa comprando livros a 4 X R$ 10,00, só para dizer que consome cultura, mas na verdade está comprando “estante a metro”; 3) por fim, não gosto desse tipo de evento, onde as escolas numa demonstração de legitimação de suas ações, perante a família e direções, entopem ônibus com crianças e as enviam para o “centro da cultura”, entretanto, desprovidas de guias preparados ou sem paciência (professores) para lhes dar um caminho a ser percorrido, as deixam limitadas às bancas de revistas repletas de “Rebeldes”, “Glees”, “Capricho”, “Todateen”, ou dependendo da idade, aos livrinhos pintados em cores reluzentes com estórias repetidas e copiadas em série, num processo sem criatividade nenhuma, mas prontas a serem consumidas a preços baixos como se fossem algo de valor inestimável, assim como os hambúrgueres, crepes e pizzas que disputam o espaço do evento nas enormes “praças de alimentação”.


Poderia ficar listando outros exemplos de minhas reservas, mas não é bem esse o propósito dessas parcas linhas, até porque, visitei o evento, com dia e horário escolhidos criteriosamente; quem em sã consciência estaria numa terça-feira, entre 18 e 22h, véspera de feriado, caminhando pelos três enormes pavilhões e seus expositores além de uma meia dúzia de gatos pingados, que quisessem pacientemente examinar algumas prateleiras invisitáveis no feriado e final de semana? Acertei na mosca, sem problemas para estacionar, da mesma forma para comprar a entrada (R$ 12,00 a inteira e R$ 6,00 a meia), bem como para entrar e caminhar por avenidas largas e despovoadas daquela multidão consumista, que certamente vai invadir o local nos próximos dias.


Na companhia de meu amigo e co-autor em alguns artigos, o Ricardo Ventura, iniciamos nossa jornada pela Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, bons indícios se prenunciavam, encontrei “O Sacramento da Linguagem” do Agambem por R$ 22,00; mais a frente no Instituto Piaget outra jóia “Direito e Moral” de Jüngen Habermas por R$ 23,00; tudo indicava que nosso garimpo seria profícuo e nossa ida não teria sido em vão. Qual nada, logo depois desses primeiros achados, muita decepção.


Os editores responsáveis por publicações mais “encorpadas”, além de alguns raros, não estão presentes na feira, muito pelo contrário, em matéria de publicações, as universidades públicas é que diferem no evento, no mais o que se pode notar é a presença de muitos distribuidores comuns e fáceis de serem encontrados pela internet (Travessa, Saraiva etc.), onde inclusive, expõem seus produtos de forma mais organizada e até com preços mais em conta, mesmo considerando o frete.


Ou seja, a Bienal ficou com cara de um grande encontro de livrarias, que disputam o mercado em um grande Shopping Center, verdadeira “indústria cultural”, onde as presenças “marcantes” ficam por conta dos livros de auto ajuda, estorinhas infantis plagiadas e sem direitos autorais a serem pagos e, metade de um pavilhão disputado pelas editoras religiosas (evangélicas, católicas e afro-religiosas).


O contraste entre grandes e pequenas livrarias também é marcante, algumas ocupam posição central nos pavilhões, com área equivalente a dezenas de pequenos livreiros, perdidos em cantos ou espremidos entre os gigantes.


Sem dúvida, que em razão do dia e horário escolhido, os encontros e palestras com os escritores que por lá aparecerão ficou prejudicado de avaliação, mas no todo, o evento deixa muito a desejar.


Por outro lado, não perdendo a viagem e aproveitando o espírito consumista a que se propõe o evento, aproveitei para adicionar em minhas prateleiras alguns autores que realmente já me eram devidos, que decorrente da pouca procura de massa, puderam ser “achados” por preços convidativos (Thoreau, Stuart Mill, Comte, Engels, Nietzsche e Hunter Thompson), no total não gastei mais de R$ 150,00 em treze obras; nesse saldo de balanço fica meu elogio ao encontro.


No mais, não duvido do que será o final do evento até domingo, muita gente, muita gente, muita gente mesmo, andando de um lado para o outro, disputando cada centímetro de espaço na sua caminhada pelos expositores, porém sem o conforto que tive devido a escolha do dia para minha ida e sem a condição de pacientemente, poder bulinar em cada estante alguma coisa que seja de seu interesse.


Para quem não teve a oportunidade de ir, fica minha sugestão: “não sei” se vale a pena ou não essa maratona a partir de sexta-feira, talvez quinta ainda dê para fugir dessa grande “visita ao parque” (com direito a cachorro quente, pipoca e coca-cola), que se tornará o Riocentro de final de semana; é possível que quinta, nesse horário noturno do “macarrão com galinha”, ainda seja viável uma fugida do furacão que aquilo se tornará, porém, jamais recomendaria o sábado e muito menos domingo, a relação o custo benefício é profundamente deficitária e, a XV Bienal do Livro no Rio de Janeiro deixa muito a desejar para tanto sacrifício.

09 agosto, 2011

Um mundo linear e finito



“A história das coisas” é um mini documentário, imperdível, para qualquer um que acha que a responsabilidade é sempre do Estado, porém, não se dá conta do quanto possa estar sendo manipulado e legitimando todas as ações, que são praticadas nesse mundo “inventado” para o consumo.

21 julho, 2011

Sempre as cores da paixão

O jovem meia, Manuel Lanzini, vindo do River (Argentina), que assinou com o Fluminense, também é mais um dos reforços contratados para temporada, que passaram a integrar a galeria de ídolos tricolores do Blog.

Na ritualística das contratações internacionais, o Blog se sente honrado em ter sempre e exclusivamente, a primeira assinatura de “compromisso” dos hermanos.

Como no caso de Martinuccio, Lanzini primeiro firmou sobre a bandeira tricolor seu compromisso, na forma de um autógrafo, para somente depois, ter sua situação legalizada junto ao Clube.

Parabéns Fluminense, nesse dia em que comemoramos 109 anos de pura tradição campeã.

19 julho, 2011

As cores e a paixão em primeiro lugar

Hoje (19/07/11), às 10h, o meia meia-atacante argentino, Alejandro Martinuccio, antes de assinar o contrato com o clube, já tinha assinado formalmente a bandeira do Fluminense a pedido deste blogeiro.

Nesse simbólico ato, o mais novo reforço das Laranjeiras, confiante no desenrolar das negociações, demonstrava que não é no papel que se firmam as paixões, mas principalmente, nas cores do time que pretende honrar.

Vindo do Peñarol, vice-campeão da libertadores, Martinuccio se mostrou satisfeito em vestir a camisa tricolor, mais ainda o autor do Blog; entretanto, a notícia teve que ficar guardada até o último momento, afinal, olho-grande e interesse de outros clubes é o que não faltavam.

Bem vindo hermano!

06 julho, 2011

As frustrações da modernidade

Ninguém abre mão de seu corpo, liberdade e opinião; mas todos querem a proteção e certeza que “além do horizonte deve ter, algum lugar bonito e tranqüilo, pra viver em paz”.

Ninguém quer ser tolhido, vigiado e regulado por uma ordem superior; mas todos querem a segurança e o colo provedor, nas horas de aflição.

Ninguém gosta de um pai durão, repressor, autoritário e acusador, de dedo em riste na mão; mas todos querem a certeza de voltar pra casa a noite e não ter que se preocupar com “o que será do amanhã”.

E por ai vai..., são as contradições existenciais que a modernidade nos trouxe. Por um lado a certeza que podemos construir nossos destinos, que temos “o mundo em nossas mãos”; porém, logo descobrimos que há um preço a pagar por nos tornarmos senhores de nossos destinos.

O ser, moderno e racional é construtor de seus próprios caminhos, todavia, também sujeito aos riscos que essa autonomia lhe dá; na sua emancipadora modernidade, não tem mais como se socorrer da providência divina, na hora que a coisa não anda lá como esperada; como diz um amigo, “a banca paga, mas a banca cobra”.

A modernidade, inventada pela razão, abandonou os mistério do mundo e suas superstições; entretanto, ao se descolar dos dogmas e tradições infundadas, jogou fora junto com toda água suja, as esperanças de que “amanhã vai ser outro dia”.

É uma tremenda frustração viver na era moderna, ainda mais quando se está em pleno período de transição, quando ainda não bem se sabe, ser “barro ou tijolo”.

Não somos “os últimos dos tempos”, somos os primeiros de uma era, cercada de insegurança por todos os lados; de riscos por todos os cantos; de encantos que desencantam num clique de mouse; “navegadores dos sete mares”, que ainda não sabem sequer, quantos mares existem para ser descobertos e cartografados.

Nosso tempo, pela primeira vez na existência humana, é contado de trás para diante, temos pressa de viver, porque descobrimos que nascemos contando a chegada de nosso fim; precisamos realizar tudo em minutos e segundos, não há tempo para esperar, a banda tem que ser “larga”, a imagem em “high definition”, o som tem que ser “polifônico”, os contatos tem que ser globalizados, enfim, nossa modernidade exige tudo ao mesmo tempo e na sua maior intensidade, ainda que por vezes isso se torne tarefa impossível.

Não realizar tornou-se sinônimo de fracasso; não conquistar, de derrota; não avançar, de retrocesso; perdemos a noção simplória do aprendizado com nossos erros, não há mais tempo a perder com o aprender. Se antes, “o que não nos matava nos fortalecia”, agora o que nos causa é uma sensação de impotência e incapacidade.

Diante das angustias, ainda ajoelhamos olhando para o Universo, pedido socorro aos deuses que matamos com nossas razões, porém, que não queremos mais de volta, afinal, pela primeira vez somos senhores de nossos corpos, “corações e mentes”. Somos nossos deuses, mas também nossas desilusões; verdadeiros reis, “João Sem Terra”, num latifúndio que sequer conhecemos o tamanho.

As frustrações e desencantos são “as conseqüências da modernidade”, afinal, se não há mais o dedo moral apontado e nossa direção, também, perdemos o colo protetor da segurança ao retornarmos para casa.

A modernidade nos fez órfãos e abandonados, “sem parente importante e vindo do interior”, sem sobrenome de família e despossuídos de qualquer bem; assim, temos que viver e sobreviver todos os dias, da melhor e possível forma, nessa cidade grande que se apelidamos de mundo, carregando nossa bagagem de mão repleta de interrogações, caminhando na direção da construção de nossas identidades, porém, sem perder a perspectiva de “Viver! E não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar. A beleza de ser um eterno aprendiz”

30 junho, 2011

Cálculo renal

Gota de orvalho

Que escorre pela folha

Após uma noite de um inverno

Anunciando com sua leveza e intransparência

Um dia de agonia

.

A gota é pequena e leve,

quase não molha o lago

Embora a força de vontade à sua partida

pudesse mover um tsunami

Mas que nada, seu resultado embora inexpressivo,

se transforma em uma lágrima de dor

.

Como dói, como dói!

Não há sentir de amor perdido

comparável com tamanho sofrimento

Não há rolar na cama noites em claro

sequer semelhante,

porém choro, por não querer me abandonar

.

Eu não sou você, tão pouco tu me pertences

Ocupastes um espaço inútil de meu interior,

insististes em crescer em algum de meus vazios,

sem minha autorização ou querer

Não te possuo, tu que me tens e me consomes

Me deixa, não fomos feitos um para o outro

.

Rebelo-me contra ti

Drogo-me na esperança de sequer lhe perceber,

ocupo-me dos meus sonhos,

evito falar seu nome

Mas mesmo assim, tu insistes e chamar-me a atenção

Cruel o que fazes comigo

.

Porém, é chegada sua hora de partir,

Segue teu caminho, conduzido pela gota

do orvalho que pinga da folha

como um choro de dor.

.

Nessa manhã fria de inverno

Abandona-me, deixa eu seguir em paz,

atira-te num lago profundo e não me atormentes mais

Aceito pela última vez uma lágrima por ti

Mas por favor, nunca mais

28 junho, 2011

Uma guerra de interesses não revelados

Em sete páginas fiz uma breve (!) abordagem sobre um tema pulsante, o fim do combate militar às drogas e da descriminalização de seu uso, que ora disponibilizo aos amigos e principalmente aos meus alunos, estudiosos do Direito Penal.

Devido ao seu tamanho e formatação, ofereço o texto através dos links skydrive ou 4shared (é só clicar), que afinal, mais que uma proposta de artigo, é uma tomada de posição.

26 junho, 2011

Uma nova linguagem revolucionária



A respeito das recentes e constantes invasões nos sites governamentais no Brasil – fenômeno político com expressão internacional em todos os níveis, privados ou públicos - tive a oportunidade de reproduzir o breve texto que segue, na minha página da rede social Facebook, como também o vídeo do denominado grupo “Anonymous”, que ora partilho aqui no Blog.

De um modo geral, as pessoas ainda não se deram conta do processo em curso; a crise de legitimidade do modelo mundial (Estado-nação, representação política, descrédito institucional etc.) tem provocado reações, aparentemente isoladas, porém, que além de possuírem uma dimensão muito maior que a grande mídia divulga (por óbvios interesses), tem influído e alterado significativamente algumas tomadas de decisões dos detentores do poder pelo planeta.

A globalização, como “intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distancia e vice-versa” (Giddens), alterou a forma de ver o mundo, revelando que os problemas não são localizados ou particulares, mas pertencentes a todos; assim, multi-identificação entre dos atores globais, vem servindo de estopim à reações das mais diversa, ainda que sem prévio ajuste, ideologias definidas ou metas claras a serem alcançadas; é fato, que as mais recentes insurreições sociais (Síria, Líbano, Iêmen, Grécia, Espanha), comandadas por convocações anônimas vias redes sociais (Twitter, MSN, Facebook...), são a clara demonstração de uma revolução silenciosa que está acontece por toda circunferência global.

É cada vez mais evidente o confronto entre poder e os apoderados, porém, com substancial mudança na linguagem desse embate.

Outra forma de expressão desse embate tem se dado dentro da própria internet, através daquilo que se simplificou como ação de “hackers”, que em breve, tão logo sejam erigidos à condição de inimigos dos Estados, não duvido, serão denominados somente de “ciberterroristas”.

Há em curso uma revisão paradigmática, provocada pela ineficiência e distanciamento do poder soberano e seus súditos, resultante da tensão entre a facticidade (acontecimentos) e validade (legitimidade). O que emergirá desse embate ainda é uma incógnita, porém, não se pode desprezar ou tratar como mero ato de rebeldia individual, ações aparentemente pontuais, que, entretanto, possuem uma forte carga explosivo-transformadora.