Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

01 janeiro, 2010

Ano Novo

Há várias formas de desejar um Feliz Ano Novo, ofereço esse ano 36 anos de pura atualidade.

Acreditando mais na realidade que nas previsões “água com açúcar”, prefiro compartilhar com meus amigos a bela poesia da Patrícia Blower, lançada em 1978 no seu livro “Descompasso”.

Felicidade para todos.

Que venha 2010.

ORÁCULO

Somos os dos últimos tempos

os ricos de crediário

os puros de Cursilho

os filhos de mães solteiras

Somos os dos últimos dias

os que contestam o burguês

e vivem na procura de status

os que enumeram teorias

e se engasgam com a prática

os que amam livremente

e vasculham o útero verde

na sondagem mortal

Somos os da última década

os sem dia seguinte

os de futuro incerto

os da classe média

os vermes falsos das tardes

os amedrontados

os covardes

os contraguerra

lutadores sem pátria

Somos os dos últimos anos

os ateus que casam de branco

os sonhadores artificiais

os seres da Lua

os máquina de Marte

os mortos de fome da terra

os poetas

os filósofos

os assassinos

os parasitas

Somos os dos últimos momentos

os de sangue quente

os de voz grossa

os de mãos forte

os impotentes

os filhos de pais penúltimos

os pais de filhos inúteis

Somos os das ultimas horas

os agentes poluidores

os pacientes poluídos

os comandantes

os comandados

os engarrafados no tráfico

os bêbados de fim de jogo

os troncos secos de fornalha atômica

os pobres homens honestos

os ricos homens espertos

Somos os dos últimos segundos

os segurados

os neuróticos

os atrasados

os necrosados

os vítimas dos vigésimos andares

os torcedores tarados

os jovens traumatizados

os desprezados

os que podiam ser

os castos

os machos

os piegas

os vitoriosos inválidos

Somos os do último século

os de nervos tensos

os de futuro negro

os de fruto pobre

os de terras secas

Somos os da última fase

a mórbida

a vingantiva

a solitária

a assassina

..............fase vital dos falsos homens sem vida

(Patrícia Blower, Niterói - 1974)