Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

03 agosto, 2005

Lições da guerrilha

Aqui mesmo no Blog postei minha decepção com o depoimento do José Dirceu na Comissão de Ética da Câmara. Achei que a postura de negar veementemente todos os fatos por parte do Zé não foram convincentes e não ajudaram em nada na elucidação das verdades que todo o povo pretendia ver no duelo Jefferson X Dirceu.
Questionei a estratégia ética da defesa adotada pelo Dirceu, quando transferiu toda a responsabilidade de qualquer coisa que possa ter acontecido para o seu partido, livrando literalmente sua cara e mais, protegendo-se de qualquer descoberta de fatos passados ou futuros, preservou sua pele e mandato sob o manto da legalidade formal, ou seja, dizendo que não poderia ser alvo de acusações de quebra de decoro parlamentar por não estar exercendo atividade parlamentar, devido sua licença para o exercício de função no executivo.
Minha indignação necessitou de uma noite de sono, para que fossem processadas e refletidas as informações fora daquele primeiro momento.
O Zé vai negar tudo, até o fim ele não confessará.
Treinado no movimento guerrilheiro, o Zé aprendeu a importância do silêncio e da preservação dos camaradas nos momentos de luta. A mente do Zé foi forjada no embate e ele sabe como poucos manter a calma nos momentos mais difíceis. O Zé sabe e aprendeu que mesmo capturado deveria manter o silêncio a qualquer preço, mesmo que custasse seu próprio sacrifício. Aprendeu que no momento da luta só estaria liberado à confissão após passar pelas mais difíceis provas físicas e mentais, resistir à tortura faz parte da formação de sua mente.
O Zé foi interrogado com todas as garantias constitucionais e soube usar da lei, preservou a si e a quem mais queria, não poderia ser outro o resultado, nada declarou.
Para mim o Zé mostrou mais uma coisa, que conhece bem a lição. A propósito, cito parte do “mini-manual do guerrilheiro urbano” de Carlos Mariguella:
A segurança da guerrilha deve ser mantida também e principalmente em casos de prisão. O guerrilheiro preso não pode revelar nada à polícia que possa prejudicar à organização. Não pode dizer nada que de pistas, como conseqüência, as prisões de outros camaradas, a descoberta de endereços e lugares de esconderijo, a perda de armas e munições.

3 comentários:

Elaine disse...

Ainda estou caidinha, mas passei aqui para agradecer ao amigo por ler o conto "As Lágrimas de Zelão" até o final.
Quanto ao seu texto, ontem quando assistia a esse "circo" - porque eu não consigo dar outro nome - fiquei pensando exatamente no que vc falou nesse post. Na minha "inocência política" fiquei imaginando o quanto o Zé Direceu treinou para se mater frio diante da CPI e principalmente, do RJ. E embora algumas vezes, ele tenha engasgado, achei que se saiu melhor do que todos nós esperávamos. E quando li seu post sobre a guerrilha, cheguei a conclusão que não poderia ser diferente. Com essa confusão toda e os "roubos de cena" do Roberto Jeffesron na CPI, acabamos esquecendo quem na verdade foi e é, José Dirceu. O amigo lembrou muito bem!
Abraços,
Elaine

Anônimo disse...

Seu post , está sendo uma aula de história ,é querer demais que ele falasse que está envolvido.
Uma coisa tá sendo legal,as pessoas estão comentando ,não acreditam mais em discursos prontos ,feito " receita de bolo ",torço muito para que não acabe em pizza .

Ricardo Rayol disse...

Ele foi coerente. No circo que se transformou a CPI e afins ele foi o artista do trapézio