Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

07 fevereiro, 2009

O que está acontecendo com esse país? (I)

Hibernado no Blog, pós-férias, muitas coisas estão sendo resolvidas em “prioridade”, coisas que ficaram desde o ano passado e outras que já surgiram nos primeiros dias do ano novo, entretanto, mesmo sem tempo para visitas e outros comentários, resolvo voltar a postar indagando e indignado conforme o título.

No final do ano passado, mais ou menos por outubro ou novembro, com a chegada da estação das compras, um calçadão na rua de minha casa ficou infestado de camelôs. Moro num bairro predominantemente de classe média, naquilo que chamamos por aqui de Zona Sul, ou seja, onde o poder aquisitivo dos seus moradores ainda não chegou ao ponto de ter que entrar na fila do operário-meu-patrão, para pedir uma dessas bolsas-esmola.

Voltando aos camelôs, os instalados são próprios para a localidade que resolveram ocupar, vende relógios, óculos, camisas e bijuterias com a necessária “grife” que a pequena burguesia niteroiense exige.

A instalação dos ambulantes no calçadão, a propósito, inaugurado nas vésperas das eleições municipais, incomodou bastante a um conjunto de dois blocos de belos prédios localizados a duas quadras da praia de Icaraí, afinal, a classe média quer a “grife” mais barata, mas não quer se contaminar com o verdadeiro mercado persa que se instala nas suas calçadas.

Terminadas as compras de Natal, os comerciantes informais permaneceram no calçadão, não só permaneceram os que por meses já estavam, como surgiram outros camelôs, incluindo no “shopping” a céu aberto outros produtos: DVDs, CDs, programas de computador, brinquedos e toda sorte de quinquilharia paraguaia que o dinheiro pode comprar.

Revoltados com a ocupação permanente, alguns moradores resolveram acionar o poder público, que em solução salomônica (me perdoe o Mestre), removeu os comerciantes para o quarteirão seguinte, que tem a metade de sua calçada como “calçadão”, largo e espaçoso, e a outra metade com a passagem de pedestres em tamanho regular, uma loucura, pois até nas entradas das garagens alguns ambulantes resolveram instalar suas bancas.

Ou seja, agora o calçadão inaugurado está vazio, sendo que um quarteirão depois, as calçadas estão ocupadas pelos vendedores de miçangas. E o que eu tenho com isso? Adivinhem.... moro exatamente nesse outro quarteirão recém-ocupado, tudo sob o olhar e administração da Guarda Municipal, que presenciei orientando expressamente a um dos inquilinos do passeio público: “aqui não pode mais, mas vai pra aquela área ali, lá não vamos tirar ninguém”.

O que está acontecendo com esse país? (II)

Hoje, por volta de 15 horas resolvi dar uma caminhada com meu feroz animal de estimação, um “fox paulistinha” (que agora ganhou nome de raça: Fox Brasileiro), passando pela calçada que escrevi no post anterior, pensava no que representavam aquelas pessoas ali paradas, oferecendo seus produtos em banquinhas toleradas pela muncipalidade.

Em certo momento olhei bem para uma das pessoas que administrava uma banca de óculos importados de “grifes famosas”. Num primeiro momento estranhei, achei que confundia as fisionomias, até porque o observado era um pouco mais magro e com aparência um pouco mais velha que a pessoa que eu confundia.

Segui em frente no passeio, mas na minha cabeça as pessoas eram as mesmas, tudo confirmado pelo olhar baixo que recebi no momento de meu caminho de retorno e passagem necessária pelo local, olhar de “quem faz de conta que não viu”, na verdade ele não queria ser visto ali por ninguém, nem por mim. Respeitei sua vontade, apesar de ter insistido com minha presença em ser notado, mas mesmo assim não quis me ver.

Vou chamá-lo de Moura, é o que interessa para o post. Moura quando conheci tinha uma boa agência de automóveis (multimarcas como agora chamam), dividia seu trabalho e lucros com outro colega, que mais tarde soube ter partido para o ramo de fabricar colchões, nunca mais ouvi falar sobre o fabricante de ortopédicos.

Apesar de não ser meu amigo, ficamos no campo de bons conhecidos, desde quando comprei meu primeiro carro com ele. Quis o destino por algumas vezes me fazer conhecê-lo um pouco mais e a sua família, inclusive, em certa ocasião, tive de passar em sua casa para lhe entregar um recibo de automóvel assinado que ele tinha vendido para mim, foi quando conheci sua esposa e filho.

Moura tinha um bom padrão econômico, além de sua agência, morava em uma casa em condomínio de classe média/alta, com tudo que uma boa casa de quatro quartos deve ter, além da área com piscina e churrasqueira. Sua esposa andava em carro próprio novo e o Moura usava quantos quisesse de seu estoque.

Passados alguns anos, novamente tive a oportunidade de ver o Moura, dessa vez cobrando o aluguel de uma boa loja de sua propriedade, locada a outra agência, não de carro mas de motocicletas, onde já tive oportunidade de fazer alguns negócios. Na ocasião Moura me ofereceu um cartão pessoal indicando que estaria trabalhando numa corretora de seguros, na condição de sócio.

A última vez que tinha encontrado com o Moura foi caminhando nas ruas de Icaraí, quando em companhia de sua mulher disse estar morando também no mesmo bairro, teria vendido sua boa casa sob a alegação de que precisava cortar alguns custos.

Agora novamente vejo o Moura, como narrei inicialmente não pude identificá-lo, mas quando consegui, quem não quis me ver foi ele. Sua condição de trabalho não lhe deixou confortável comigo, sua condição de camelô de óculos pirateados, não só não lhe faz bem financeiramente, como lhe envergonha ao ponto de não querer ser reconhecido como tal.

Fiquei triste pelo Moura, queria lhe apertar a mão e perguntar como vão as coisas, mas acho que o Moura não quer apertar a mão de ninguém por enquanto, e quanto a como vão as coisas, acho que ele já me disse tudo.

O que está acontecendo com esse país? (III)

O nome dele é Ricardo, conhecido pelos amigos como “Ricardo M...”, o “M” adotado como sobrenome é o nome da malharia do Sul do Brasil que representa a mais de 20 anos no Rio de Janeiro.

Ricardo é parceiro, jogou muito pôquer comigo, sempre tirava muita onda quando as cartas lhe sorriam. Também fazia “bico” quando as cartas insistiam em fazê-lo o perdedor da madrugada.

Ricardo M. sempre vendeu muito bem para os grandes magazines e mesmo para as pequenas lojas do ramo de malhas, seu produto é bom e posso atestar (também já tive uma confecção), verdadeiramente um dos melhores do país.

Nos melhores momentos, Ricardo M. abriu sua própria loja, em sociedade com Cristina, sua ex-esposa, a empreitada foi bem até certo ponto, quando achou melhor vender e prosseguir na sua estável e rentável representação.

Pois bem, não via o Ricardo a mais ou menos seis anos, depois que me separei perdi alguns contatos em razão de relações que estavam mais próximas da vizinhança de minha ex-cunhada, Ricardo morava no mesmo condomínio que ela, por várias questões deixei de frequentar o local e os contatos ficaram por conta do acaso.

Essa semana novamente abracei Ricardo M., encontrei o parceiro de pôquer quando foi tirar um passaporte. Está indo para Angola atendendo ao convite de um prefeito(!) de lá que conheceu no Brasil, vai ver como estão as coisas por Angola, conforme for, se os olhos brilharem, não descarta a possibilidade de ficar.

Em confissão final desabafou: “Zeinha, por aqui não está dando, onde eu virava 100 estou virando 30, em mais de vinte anos nunca passei o sufoco que estou passando”. Pegou o passaporte e se despediu...