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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

06 fevereiro, 2015

A ética da maracutaia


“Em depoimento prestado à Polícia Federal no dia 21 de novembro de 2014, o ex-gerente-executivo de Serviços da Petrobras Pedro Barusco diz ter recebido propinas em troca da aprovação de contratos desde 1997 ou 1998. Ou seja, ainda durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O depoimento prestado sob o acordo de delação premiada tornou-se público nesta quinta-feira 5.” (Carta Capital, por Fabio Serapião, de Curitiba, e Marcelo Pellegrini — publicado 05/02/2015 16:42, última modificação 05/02/2015 17:47)


Chama a atenção como a matéria da Carta, veículo jornalístico alinhado ao Planalto aborda o tema da corrupção na Petrobras; enfrentando o maior escândalo de corrupção na historia do país, sempre de modo amigável às ponderações governistas, a revista revela nas entrelinhas os mesmos argumentos justificadores que imperaram durante o “Mensalão”: “sempre foi assim!”

Isso eu sei, você sabe, ninguém nunca duvidou, os escândalos da Colônia à República, passando pelo Império estão nos livros, para quem quiser pesquisar e saborear histórias de safadezas com o dinheiro público, porém, acho temerária essa ética dos “todos fazem”, afinal, se “todos podem”, “vou fazer também”. A questão é se “todos fizerem” ou “continuarem fazendo”, o que vai resultar é um comportamento autoreferencial negativo, ou seja, estaremos inviabilizando de vez qualquer modelo de sociedade, no caso, prevalecendo a ética do inferno, não deverá sobrar nada, sequer para ser roubado pelo próprio cramulhão.

Concordando com a militância do partido e com a revista num ponto, sem dúvida que não, o PT não inventou a corrupção, todavia, após tudo que já se descobriu no passado e o que se revela no presente, pelo menos é certo que os agentes de governo petistas aprimoraram os métodos e alargaram o tamanho do ralo por onde escorre a propina. Observo, esses argumentos são objetivos, levam em conta valores apurados e divulgados pela imprensa, MP e Justiça.

Qualquer que seja o encaminhamento defensista no sentido de apontar os crimes alheios para justificar os próprios, no caso do PT se torna agravante, até porque é oportuno lembrar, foi sob a bandeira da moralidade pública que um dia boa parte das esperanças da sociedade foram depositadas no então partido de oposição que pretendia novas práticas, todavia, tão logo chegou ao poder conferiu grau de sofisticação nunca antes visto na “maracutaia” instaurada.

Moralmente, governistas e aliados de imprensa, se embolam nas próprias pernas quando buscam justificar práticas atuais com outras passadas, por indefensáveis se descredenciam cada vez mais; como as manifestações não são claras quanto a reprovabilidade dos atos, mas justificativa dos próprios comportamentos, tudo no final só serve, quando muito, para mostrar que são todos farinha do mesmo saco, destarte, não enxergam que a falta de moral de um não dirime a imoralidade do outro, o sujo falando do mal lavado não faz nenhum deles menos imundo.

Talvez os militantes mais fiéis tenham esquecido, porém, quando agentes do partido ainda não tinham tomado de assalto os cofres públicos, suas lideranças defendiam severas investigações, julgamentos e punições para corruptos e corruptores, tanto de natureza penal, como administrativa e política, sanções que hoje são consideradas artimanhas e práticas golpistas quando exigidas pela sociedade – aqui pra nós, será que algum petista acredita mesmo nessa ladainha, diante e tantos fatos, delações, confissões e mesmo milhões de dólares devolvidos em acordos criminais-judiciais!

Ingenuidades à parte, a corrupção por certo vem desde antes e inclusive durante o governo de FHC, sequer se pode duvidar de desvios ou contratos vendidos na Petrobras desde sua fundação, a corrupção é endêmica no estado brasileiro, fatos inclusive que bem serviram de munição eleitoral para condução do Lula ao primeiro mandato de presidente, porém, por cumplicidade ou conveniência, desde então nunca foram apurados em necessária profundidade para derradeira punição daqueles infratores, assim sendo, hoje o PT  reclamam da própria conivência ou incompetência.


Por fim, a noticia apresentada pela Carta Capital, assim como as últimas manifestações de Lula na reunião de hoje do Diretório Nacional do PT, da forma que trazem a público a delação do ex-gerente da Petrobras, tem um único propósito, descredenciar os opositores do governo de forma a retirar a legitimidade das imputações feitas aos agentes envolvidos em práticas criminosa, entretanto, lamentavelmente não demonstram ênfase em pretender que as denúncias sejam minimamente esclarecidas e que as sanções correspondentes sejam aplicadas aos causadores, ademais, incorre em profundo equívoco a Carta (Lula também), quando coloca no mesmo cesto partidos de oposição e cidadãos, titulares de direitos republicanos que cobram explicações e providências, afinal, nem todos no país são a favor da ética da maracutaia.