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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

19 setembro, 2005

Chame, chame, chame, chame o ladrão

"Acorda, amor / Eu tive um pesadelo agora / Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que aflição / Era a dura, numa muito escura viatura / Minha nossa santa criatura / Chame, chame, chame lá / Chame, chame o ladrão, chame o ladrão."
Quando Chico Buarque compôs a música “Acorda Amor” em 1974, ainda sob o pseudônimos Leonel Paiva e Julinho da Adelaide, para driblar a censura que a ditadura impunha a tudo que produzisse, não imaginava que estaria escrevendo um clássico de nossa música popular.
Começo essa postagem me lembrando do Chico e gritando bem alto: Chame o Ladrão, Chame o ladrão!
Na semana passada foi deflagrada pela Polícia Federal a “Operação Caravela”, que segundo informação divulgada pelos canais próprios do órgão policial, foi montada para desbaratar uma quadrilha de tráfico de entorpecentes internacional, baseada nas cidades de Goiânia e Rio de Janeiro, chamando a atenção por serem integrantes da organização criminosa empresários do ramo de restaurantes caros e famosos no Rio de Janeiro, que se aproveitavam de suas condições empresariais para remeter cocaína para o exterior, “embaladas” em peças de carnes congeladas e “lavar” os valores auferidos em suas empresas.
Na mega operação foi apreendido mil e seiscentos quilos da droga, avaliada em setenta milhões de dólares, dez automóveis de luxo, uma lancha, setecentos mil euros, cinqüenta mil dólares e resultou ainda, na prisão de sete pessoas envolvidas com o crime.
Claro que todo mundo tomou conhecimento da notícia pela televisão, pela internet ou por algum jornal. No Blog Vox Libre de Antonio Rayol inclusive, foi postado um tema que acho merecedor de reflexão, quando seu autor pondera sobre quem seria o maior beneficiado por essa apreensão, se nós aqui em terras brasilis ou se nossa polícia estaria trabalhando bastante bem para os organismos internacionais de repressão ao tráfico, já que a droga apreendida não se destinava ao “consumo interno”, mas era direcionada para outros mercados consumidores.
A propósito do tema que não é novo, mas é sempre atual a polêmica. Quando fechamos o tráfico aos mercados europeu ou americano, não estaríamos restringindo a circulação da droga pelo continente sul-americano? Ou seja, a droga continua sendo produzida nos países de origem e diga-se de passagem, o Brasil não possui um só pé de coca, sofrendo repressão do seu envio através de política de segurança muito bem articulada pelos alienígenas, só restaria saída comercial aos produtores o mercado dos países utilizados como passagem. Para corroborar essa argumentação basta se verificar que o comércio de cocaína teve notável crescimento no Brasil após a adoção dessa política de “barreira” nos corredores de passagem implantada ainda no governo Reagan.
É um tema polêmico, interessante, mas que deixo para outra ocasião, hoje venho aqui chamar o ladrão.
A “Operação Caravela” com todos os acertos que nos foram informados e erros que possam ter ocorridos, que nunca chegam ao conhecimento público já que “filho feio não tem pai”, certamente foi comemorada pela alta cúpula do governo, que procura nos sucessos do varejo respaldo para os seus fracassos no atacado. Devem ter vibrado o Presidente, o Ministro da Justiça, o Diretor-Geral do DPF, o Superintendente Regional no RJ, o titular da Delegacia de Entorpecente e suas equipes, vibrei inclusive eu e, como bem observou o Rayol no seu artigo já referido, teve até policial “fogueteiro” comemorando a operação.
Acontece que nessa manhã de segunda-feira fomos surpreendidos pelo noticiário. Levaram parte do dinheiro que foi apreendido na operação da Sede da Superintendência Regional da Polícia Federal. Teriam sido subtraídos cerca de 650 mil euros e 40 mil dólares, o equivalente a mais de R$ 2 milhões do cartório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes.
Quem foi? Ninguém sabe, ninguém viu, sumiu!
E agora o que fazer ou como justificar tamanha loucura?
Pra mim só há uma solução, correr para janela e fazer como o Chico gritando bem alto:
Chame, chame, chame, chame o ladrão...

2 comentários:

Elaine disse...

Pois é, como já publiquei, um dia de glória e outro de vergonha. Eu fico impressionada com essas coisas. Dá até medo de trabalhar em um local desse. Se roubam dinheiro de dentro da PF imagina o que não fazem com os colegas.
Sds...Elaine Paiva
PS: Ozéas dá uma olhada na configuração dos comentários está abrindo em página inteira.

Alice disse...

Que coisa heim ,espantada aqui .