Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

14 janeiro, 2006

Sábado de trabalho

Iniciados dois novos cursos de pós-graduação nesse sábado, em Direito Processual Penal e Direito Processual Civil, que passei a ter maior prazer em coordenar depois de verificar a presença de vários ex-alunos que foram prestigiar nossas especializações, chegou finalmente o fim do dia.

Com o fim do sábado anunciam os arautos os proclamas do domingo, com todas suas características de verão. Amanhã provavelmente vai dar praia e eu devo tomar um bom “banho de bar” num quiosque a beira mar.
A propósito do verão, publico o texto a seguir do Luis Fernando Veríssimo, que embora não inédito merece ser lido.

Bom final de semana para todos.


Chegou o verão

E com ele também chegam os pedágios, os congestionamentos na estrada, os bichos geográficos no pé e a empregada cobrando hora-extra.
Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.
Verão é picolé de ki-suco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.
Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis. Mas o principal, o ponto alto do verão é... a praia!!
Ah, como é bela a praia! Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção. Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias. Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.
O verão é Brasil, é selva, é carnaval, é tribo de índio canibal. Todo mundo nú de pele vermelha. As mulheres de tanga, os homens de calção tão justo que dá até pra ver o veneno da flecha, e todo mundo se comendo cru.
O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando. Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias. Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia. E as crianças? Ah, que gracinha! Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo walkman enquanto dormem.
As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo.
Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar um poço pra fincar o cabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.
Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar! Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo. Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa. A gente abre a esteira velha, com cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros puxa um ronco bacaninha. Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor. Mas, claro, tudo tem seu lado bom.
E à noite o sol vai embora. Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo. O Shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde o creme de barbear até desinfetante de privada. As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa de praia oferece. Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas.
O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família. Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical...
Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência...

4 comentários:

Elaine disse...

rsrsrrs É não é que é assim mesmo!!
Esse texto é ótimo!
É muito raro eu ir a praia no Rio, só mesmo se for para a reserva na barra ou Grumari. Gosto também de ir para Barra de Guaratiba comer um peixinho. Fora isso, só Macaé e Cabo Frio.
Beijos e um ótimo sábado para ti!
Sds...Elaine Paiva
PS: Tatá me enviou um e-mail sobre o The Crims. Publiquei lá no blog. Deixei a palavra para os juristas.

Anônimo disse...

rssss.Ozéas, muito bom!
Que coisa! e eu reclamando que aqui não tem praia!

Serjão disse...

Ótimo o texto. Não conhecia; Abs e ...Boa praia.

Alice disse...

Parabéns por coordenar os cursos :)
Se o Luis Fernando Veríssimo fosse meu vizinho ,ele estaria de saco cheio do " to atoladinha ", fora as filas ,o aumento de preços ,fazer o que " está aberta a temporada de caça sobrevivendo com os turistas " :(
Bjins