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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

04 outubro, 2008

Fundos hedge


Literalmente a tradução da palavra hedge quer dizer “cerca”, uma proteção, uma barreira. Sua utilização na economia tem esse mesmo significado, representando instrumento de proteção financeira, contra riscos de variações de preços de determinado ativo.

Considerada uma das mais eficientes para a proteção dos investimentos, a estratégia de hedging, por isso é uma das mais utilizadas pelo mercado, que através de constituições de fundos de investimentos, patrocinam o capital suficiente para a engrenagem dos negócios funcionarem, realizando para seus investidores em contrapartida, lucros consideráveis.

Para melhor compreensão da hedge transcrevo o exemplo de Júlio Brant, reporter do InvestShop.com: “Suponhamos que uma família vá fazer uma viagem ao exterior e debite a maioria de suas despesas em cartão de crédito. Como qualquer gasto no exterior é calculado em dólar pela administradora, o valor das contas virão indexadas à variação da cotação dessa moeda. Para se proteger de qualquer crise cambial, o investidor calcula em média quanto gastará em sua viagem e compra o mesmo valor em dólar ou simplesmente aplica o dinheiro num fundo cambial (atrelado ao dólar). Ao retornar da viagem, pode vender os dólares comprados e, com o equivalente em reais, pagar sua fatura. Assim, ele livra-se do risco de uma crise cambial, com desvalorização da moeda nacional, no nosso caso o Real”.

Não diferente atua uma empresa, que tem determinada fatura para pagar em moeda estrangeira no prazo de alguns meses, busca comprar dinheiro no mercado futuro para se proteger de oscilações cambiais bruscas.

Assim, se a empresa deve pagar no final de três meses um milhão de dólares, compra a moeda hoje, num fundo hedge, especulando seu débito para uma data avençada. A diferença, entre o que foi prometido e quanto vale no momento final do negócio, se para menos ou para mais, resultará em receber ou cobrir no contrato.

A estratégia do hedging, portanto, serve para limitar apenas parcialmente o risco cambial, se a cotação do dólar ultrapassa a cotação fixada, a empresa está protegida, pois terá direito a comprar a moeda mais barata, entretanto, se a moeda fica abaixo do ajustado à compra, perde com a especulação pois terá a obrigação comprar a moeda por um preço acima do praticado pelo mercado, operacionalizando, por outro lado, lucros para os investidores nos fundos.

Finalmente, adverte o Prof. Ricardo Almeida do Ibmec/SP, em matéria publicada em 02/10, no
Estadão, “que a maioria dos fundos hedge tem cláusulas que obrigam o investidor a fazer aportes em caso de perdas expressivas. ‘Quando se aplica em título público ou ação, o máximo que acontece é perder tudo’, diz. Nos fundos hedge, não. Existe a alavancagem, que é definida por ele como ‘a possibilidade de as perdas superarem o patrimônio’”. Essa é a hedge cambial.

Acompanhando o noticiário da crise, já surgem os nomes de empresas nacionais, investidoras em fundos hedge, que acumulam prejuízos consideráveis, alvo inclusive de críticas do operário-meu-patrão, logo ele, que disse que a crise não passaria por perto daqui.

Para o apedeuta, as perdas registradas pela Sadia e Aracruz com operações no mercado de câmbio, se deram por "
ganância" das empresas, como se no capitalismo existisse lucros puros e impuros. Na verdade o que há é uma fuga de investidores dos fundos hedge, com as especulações de uma quebradeira geral, até porque, esses fundos são considerados de alto risco. (leia mais)

Circulam na internet alguns números das operações, realizadas pela Sadia no mercado futuro de dólares, que fazendo as contas, a grosso modo, pois os detalhes da operação não foram explicados, temos:
- considerando a média das mínimas do dólar recentemente a R$ 1,60;
- considerando a média das máximas do dólar recentemente a R$ 1,92.
A Sadia deve ter vendido o dólar a R$ 1,60 e comprado a R$ 1,92, cerca de 20% de perda. Como a perda total anunciada foi de R$ 760 milhões, significa que a empresa devia ter em especulação cambial cerca de R$ 4 bilhões.

O que se comenta, que é ”impossível um diretor financeiro operar esta quantia sem o conhecimento e aval dos demais diretores, do presidente, dos acionistas majoritários e do conselho de administração”, ou seja, a Sadia não vivia de “ganância”, mas de aplicações em fundos hedge e todos sabiam.

Pra finalizar, olha o currículo do Diretor Financeiro, prontamente destituído da Sadia: Adriano Lima Ferreira - Diretor Financeiro, anteriormente era Gerente Financeiro na Sadia. Também trabalhou na Atento Telecomunicações – Telefonia, na Espanha, CCR – Odebrecht e Lehman Brothers em Nova Iorque (grifo do Blog). É graduado em Economia pela Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia é graduado em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas.

Imagina o quanto vale o silêncio desse homem, que assumiu toda a responsabilidade, sozinho, por todo o prejuízo da empresa.

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