Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

18 abril, 2006

Cassino Brasil


A proibição do jogo no Brasil tem seu lado criativo, afinal todos jogam, nós jogamos, quem não joga?

É Raspadinha, Mega-Sena, Dupla-Sena, Quina, Loteria Federal e Estadual, Lotofácil, Lotogol, Loteca, To Rico, corrida de cavalo, jogo do bicho, bingo cantado ou na “maquineta” (com liminar), bingo nos campos de várzea (sem liminar), carteado e roleta clandestina, jogo das argolas e de dardos nos parques de diversão e outras mil modalidades de emoção...

Conforme a legislação em vigor, só quem pode explorar a “proibição” é o Estado, que teoricamente destina a “parte do leão” para o desenvolvimento esportivo-cultural-social-beneficente-escoteiro, o que tem gerado muitas dores de cabeça para os “investidores” do ramo, desde os mais clássicos “corretores zoológicos” até aos mais modernos “bingueiros”, que não conseguem avançar na concorrência e são jogados nos guetos da contravenção.

Todo mundo quer um pedaço do bolo, ou melhor, todos querem disputar uma mesinha de apostas, ainda que não seja de bacará ou de 7 ½, o que importa é participar desse bolão nacional.

A criatividade dos “investidores” brasileiros é digna de admiração em todas as partes do planeta, como exemplo e a propósito, apontamos a Tele Sena, que é na verdade uma aplicação em títulos de capitalização, um senhor investimento para seus fieis clientes, conseguindo ser o único título no mundo que atrai seu mercado com proposta firmada em contrato, no verso do título, de remuneração pela metade do valor da aplicação inicial, isso ainda no final de doze meses.

Melhor que isso só outro produto do mesmo grupo, o afamado carnê do Baú da Felicidade, onde são ignoradas todas as regras modernas de financiamento, quando o cliente retira o produto já no ato da compra (leasing, alienação fiduciária, CDC...), trocando por uma compra parcelada em que o bem só estará à disposição no final da quitação de todas as doze prestações. Também não importa ao comprador do Baú que o produto adquirido, ainda a ser escolhido em loja, de duvidoso gosto e limitado estoque, tenha seu preço por vezes majorado em mais de 100% ao praticado comumente pelo mercado.

O que esconde todo esse processo de investimentos negativos ou de retrocesso mercantil, não é nada mais nada menos que o jogo, disfarçado e embutido como “promoções” e “sorteios” de prêmios, patrocinado pela capitalização ou pelo bom comerciante que “presenteia” seus fieis clientes com casas, carros ou mesmo barras de ouro.

O negócio é bom e como diz o ditado, no prato onde se come um, comem dois ou mais. A Rede Globo, ética e sempre politicamente correta não poderia ficar de fora desse mercado, como verdadeiramente nunca deixou de fazer. Tal como seu concorrente mais popular o Senor Abravanel, também apresenta vez por outra sua Tele Sena premiada, com um pouco mais de glamour, brilho e missão.

Lembro bem da revista “Show de Gols” na Copa do Mundo de 2.002, alardeada e vendida pelo cansativo apresentador global Fausto Silva. Por R$ 2,90, vendeu mais de 10 milhões de exemplares (isso mesmo!), onde o cliente comprava “informações” sobre os jogos e ainda depositava um cupom que vinha encartado no “periódico” numa das milhares de urnas espalhadas pelo país, para concorrer durante as transmissões a uma centenas de carros zero quilometro. Jogo, puro jogo disfarçado, até porque ninguém nunca lia nenhuma matéria publicada no pseudo-informativo, e o mais engraçado ainda, não raras vezes o leitor comprava dezenas de revistas de uma mesma edição.

Pois bem, em mais um lance de criatividade, desta vez associada com tecnologia celular, a Rede Globo novamente se prepara para “informar” seus clientes e de quebra, prestigiar e premiar àqueles que sejam fanáticos por futebol e ávidos por suas noticias.

Assistindo a programação global neste domingo pascal, no intervalo do futebol, vejo uma “chamada” do Faustão para uma nova modalidade de “informação”, mas como disse o carismático apresentador, “só para quem tem celular”.

A brincadeira agora ficou mais simples e elimina o maior problema da antiga revista “Show de Gols”, logística e distribuição, até porque existiram em 2.002 casos de cobrança de ágil para compra dos cupons disfarçados de revista esportiva, o que atrapalhou a “promoção”.

Pelo que entendi, a novidade consistirá no envio de “torpedos” para operadoras de celulares, onde o “torcedor” solicitará um pacote de informações sobre os jogos, certamente o comprador das notícias, que também serão transmitidas por “torpedos”, receberá um número ou controle, e não por coincidência, estará concorrendo a milhões em prêmios. Tudo porque ama o futebol, ama a informação e ama o Brasil.

Jogo descarado e deslavado, isso é o que está embutido em mais essa “promoção milionária”, até porque TODOS agora poderão concorrer sem constrangimentos ou limitações, desde a vovó que não tem tempo ou saúde para sair de casa na disputa de um cupom, até a criança que possui um telefone móvel à disposição para emergências escolares ou domesticas, é o jogo liberado na era digital, sem restrições de idade, cultura e mesmo condição social, facilitado ao máximo e com autorização da Receita Federal.

Outra certeza é que se poderá comprar quantos pacotes informativos quiser e que se receberá pelo serviço, meia dúzia de “abobrinhas” sobre a competição além mar. Mas afinal o que importa é torcer pelo Brasil e ficar por dentro da Copa.

As regras do negócio ainda não foram divulgadas para a torcida verde-amarela, mas a novidade vai golear facilmente qualquer Mega Sena acumulada.

Nada mal para um país que tem mais de 60 milhões de aparelhos telefônicos celulares e que adora uma jogatina.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ozeas,

Eu ainda não havia visto, mas enquanto lia o post, o faustão entrou com o comercial...

Por ser no seu blog, vou tentar ser fina.

O Brasil é o prostibulo do mundo.

Qto ao Bastos e seus casos suspeitos.

Aqueles US$ 30 bilhões, que o PT engavetou no Senado? O assunto esta sendo lembrado com a baixa do MTB, mas tinha tanta gente do PT naquela lista da CPI do Banestado, que o partido ético resolveu abafar o caso.

Mesmo porque, a lista continha empresários de todas as áreas, políticos de todos os partidos, superintendente da PF, ilustre advogado dos ricos malandros, vigaristas abastados e assassinos famosos, “etc. e tal Principalmente os “tal”, uns "tal" de não sei quem...

Que eu saiba a investigação que corria na PF passou pro MPF.

Como dizem: Quem pode manda e quem tem juízo, obedece!

Boa semana,

Beijo

+ Kazzx + disse...

Caro Ozeas,

O jogo tá liberado faz tempo, mas só um "Cappo" pode explorar...e você já o nomeou muito bem em seu texto...

Parabéns....

Abçs

Ricardo Rayol disse...

Considerando que as loterias da CEF são viciadas e que somos todos umas bestas era de se esperar. Mas se eu tivesse grana não me importaria de torrar um pouco em companhia da mulherada da foto :-)

Anônimo disse...

C�spita! Enquanto tiver cavalo Sao Jorge nao anda a pe!!!!