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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

01 dezembro, 2007

Um país dividido

Acompanhando-se as últimas pesquisas na Venezuela sobre o plebiscito, antes que o neoditador Hugo Chávez proibisse suas divulgações, as vésperas da derradeira manifestação popular, observa-se que o país está dividido.

Estarão aptos ao voto plebiscitário amanhã, 16 milhões de venezuelanos e segundo as pesquisas, 46% se manifestarão pelo “não” as reformas, enquanto que escolherão o “sim” 45% dos eleitores pesquisados.

Em números reais, ao que se anuncia, pode-se afirmar que a diferença entre os dois lados no final, não deve passar de 1 a 2%, ou seja, 150 a 300 mil eleitores definirão os rumos que a Venezuela deve seguir.

Sem discutir o mérito das medidas propostas, até porque já deixei bem claro em outras oportunidades minha opção internacional pelo “não”, a divisão eleitoral da Venezuela pode se assemelhar com o Chile de 1970/03, principalmente nas conseqüências de sua leitura.

Tendo chegado a presidência do Chile, através das eleições de 1970 com 36% dos votos, Salvador Allende representava uma coalizão de seis partidos de esquerda, que foi chamada de chamada Unidade Popular (UP).

O sistema eleitoral chileno adotava a forma de “dupla maioria”, que consistia na necessidade de que o candidato mais votado a presidência, também tivesse a maioria do parlamento. Como a maioria obtida por Allende foi apertada, seu principal concorrente, o liberal do Partido Nacional, Jorge Alessandri, obteve 34,8% dos votos, a UP para atingir seu intento principal, o poder, buscou uma composição com o terceiro colocado do pleito majoritário, a Democracia Cristã, que alcançou 27,8% na eleição.

Ao forjar a aliança necessária à presidência, Salvador Allende assinava sua confirmação pelo Congresso Nacional como Presidente da República em 1970, representando uma teórica maioria nacional de 63,8%, era dado assim o primeiro passo para o projeto de revolução socialista pela via democrática.
Enganado pelos números que a UP inventara, Allende e seus partidários acreditavam que suas propostas revolucionárias seriam acolhidas pela sociedade chilena, mas a história provou que embora numericamente, aparentemente, seu governo tivesse respaldado, faltava o componente principal a qualquer processo revolucionário, o consenso.

O consenso revolucionário, ingrediente indeclinável nessa forma de manifestação do Poder Constituinte, não pode ser equilibrado em frágeis alianças ou contas de varejo, deve estar lastreado em esmagadora maiora da sociedade, representando mesmo, a impossibilidade de se seguir por rumos diferentes, é o verdadeiro turbilhão, que arrasta em tsunami, por um caminho sem volta. Qualquer coisa diferente disso é golpe de estado, ou seja, mera modificação do ordenamento jurídico por quem tem a força.

Allende enfrentou durante seu governo resistências generalizadas, tudo porque, não era legitima sua revolução, não era querida a transformação que sonhava para o Chile. Também não se justifique na política externa dos EUA a derrocada socialista chilena, isso porque, quando verdadeiramente o povo quer, não há quem interfira na transformação, o que restou provado, não era o caso.

O governo de Salvador Allende sucumbiu em 11 de setembro de 1973 pelas mãos de seu Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Augusto Pinochet, que em processo repressivo, prendeu e torturou mais de 100 mil pessoas, matando outras 30 mil durante o tempo que governou o pais. Esse foi o custo da aventura socialista de Allende, o mergulho nos porões de um dos regimes mais sanguinários da história continental.
Parece que a lição chilena de nada serviu para alguns, particularmente para Hugo Chávez, que se tudo correr bem para seu lado amanhã, ganhará uma eleição apertada, com diferença próxima de 1% dos eleitores, mesma diferença esperada, se tudo não for tão bem para o protótipo de ditador venezuelano.
O projeto “revolucionário” de Chávez não tem condições de ser implantado, seu povo está dividido, quase que em exatas proporções, insistir em aplicar as “reformas” em tal cenário é anunciar um suicídio político, ou um provável fratricídio venezuelano. Da correta interpretação desse resultado dependerá a democracia venezuelana e seus reflexos no continente.

4 comentários:

Ricardo Rayol disse...

Fez um excelente paralelo e esperar bom senso do bufo-fanfarrão é esperar demais.

tunico disse...

O problema Ozéas é que as pesquisas indicam 60% contra a reforma mas como lá o voto é facultativo, o SI pode ganhar pelo absenteísmo. E o bufão está amedrontando o povo. Muita gente pode deixar de votar por medo de violência.

Unknown disse...

Ozeás vai prevalecer a máxima do:

Em casa que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão.

Quantos vai matar? Quantos meses o malucão vai agüentar?

Anônimo disse...

:D Boa tarde mestre Ozeas! Graças à Deus o povo venezuelano deu um 'CALA A BOCA!" no Chávez. Ponto para democracia! :) Bjs!
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