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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

07 setembro, 2008

Nem tudo está perdido

Resolvi passar o final de semana em Búzios, meus cálculos renais (5), exigiram um retiro providencial, dor por dor, que seja num lugar mais agradável.

Na estrada, vende-se de tudo, panela de barro, rede, queijo, jaca (mole e dura), aipim, bananada, berrante de boi, samambaia, carroceria de caminhão... e puff. Isso mesmo, aquelas gigantescas almofadas, feitas de couro ou napa, courino para os mais modernos, recheadas de espuma ou bolinhas de isopor, que com o tempo vão dissolvendo ou sendo compactadas com seu peso e você tem que voltar a recheá-los com cargas extras do mesmo material, isso se o puff não acabar primeiro.

Pois bem, no meio desse shopping rodoviário, resolvi parar e realizar a compra de um puff para mim, adoro me esparramar pelo chão e um almofadão do tamanho gigante que queria seria o ideal para relaxar minha mente, enquanto termino de ler o livro do Saulo Ramos, Códigos da Vida, por sinal, um excelente trabalho do astuto advogado do Sarney, além é claro, de pensar em disfarçar o desconforto da dor renal que tem sido minha companheira nos últimos dois meses.

Após muito olhar e escolher, sou meio tímido em parar em lugares cheios, escolhi uma modesta lojinha de duas portas de aço, sem muito conforto para seu público, no caso só eu estava na loja. Fui atendido por uma mulher simples, porém muito educada, que me apresentava cada modelo que era fabricado por ela e seu marido nos fundos do estabelecimento.

Exagerado como sou e, detentor de um corpo de 100 kg, busquei o maior, entretanto, a senhora que me orientava na compra, desrecomendou modelo “de casal”, não cabia no banco de trás do meu carro, fato que só me convenceu após uma infrutífera e teimosa tentativa de enfiar o gigantesco puff dentro do Focus.

Negócio fechado num modelo “individual grande”, na discreta cor verde-limão, depois da tradicional e infrutífera “chorada”, pagos R$ 80,00, entrei no carro e prossegui caminho por mais aproximados 120 km até meu destino.

Chegando em casa e desarrumando a única maleta que levei, dei conta que me faltava um celular, achei o rádio... mas onde estaria esse raio de aparelho, como somos dependentes e escravos dessas máquinas! Resolvi ligar e ir para dentro do carro para tentar ouvir algum som, “tomara que não esteja no vibracall...”. Nada dentro do carro, mas eis que ouço uma voz que atende meu telefone.
- Quem fala?
- É Wantuir.
- Quem?
- Wantuir.
- Meu amigo, esse telefone é meu, perdi, onde você achou?
- O senhor perdeu na porta da minha loja, aqui onde o senhor comprou o puff.
- Companheiro, como posso reavê-lo?
- Amanhã estou com a loja aberta até meio dia, é só o senhor passar por aqui, se chegar mais tarde, não tem problema, liga para mim que vou até a loja e entrego pro senhor.
- Obrigado, vou agora mesmo para ai (19:30), quando for 09:15 chego em Tanguá e te ligo. Wantuir, você tem outro telefone?
- Tenho sim, anota ai, 8713-4480 e 8682-5293. Quando o senhor estiver perto, me liga que te encontro em frente da churrascaria que tem perto, do lado do posto, lá tem mais luz e é mais seguro pro senhor.

Entrei no carro e retornei mais 120km, sabendo que outros 120km me aguardavam para retornar para onde já estava, fazer o que, como diz a voz popular, todo castigo pra c..., deixa pra lá, o castigo é pouco, fui lá buscar meu “brinquedo”.

Pelo caminho conversava com Paola, "quanto dou de gratificação?" Minha idéia inicial era de R$ 50,00, mas algo falava pra mim, "é pouco seu 'brinquedo' vale lá uns mil reais, quanto devo dar Paola?" Nenhum consenso. Mas já chegávamos ao local, uma hora e quinze a mais de estrada, e outra hora e quinze para voltar. O cálculo já tinha até se acostumado com o banco do carro.

- Alo, Wantuir, estou chegando na churrascaria..
- Estou indo pra lá, me espere.

Chegamos juntos, diferença de segundos. Wantuir dirigia seu velho, muito velho mesmo, Monza, enquanto sua esposa segurava uma pequena criança, no banco do carona. Parou e com um sorriso no rosto foi logo dizendo: “o senhor deixou o telefone cair ao lado do carro, quando entrou na estrada, vi que estava lá e guardei, imaginei que o senhor ia ligar quando desse por falta”.

Agradeci, “muito obrigado mesmo, ai está toda minha agenda, os números de todo mundo estão ai”, prossegui, “posso te dar uma gratificação, você me ajudou?”
- Que isso seu Ozéas (já me chamava pelo nome), o senhor não deve nada não.
- Mas campeão, é só um agradecimento...
- Larga disso, é só o senhor pegar seu telefone que está tudo certo.
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Olhei para a criança, para a mulher, pensei, “pessoas simples e de bem”.
- Vamos lá Wantuir, deixa então eu dar um presente pra menina?”
- Nada disso, fica tranqüilo, não tem nada que fazer isso.
- Então eu volto, e compro mais um puff então, ok?
- Ai é com o senhor, tudo bem, quando quiser pode comprar outro puff, mas não é obrigação.

Despedi-me daquela pessoa fantástica que é o Wantuir e sua gentil esposa, que além de fazer um confortável e bem acabado puff, me deu uma aula de solidariedade. Nem tudo está perdido.
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Agora uso do Blog pra fazer propaganda do Wantuir. Quem quiser comprar um puff, bonito e barato, tem que ligar pro Wantuir, ele atende também por encomenda, os telefones já falei antes, mas repito pra ninguém perder a oportunidade, (21) 8713-4480 / 8682-5293. Uma coisa é certa, se o puff tiver a mesma qualidade de quem o faz, vocês estarão comprando um produto raro e honesto.

A propósito, o telefone me foi entregue desligado e sem nenhuma ligação senão as minhas.


2 comentários:

Anônimo disse...

Belo relato.Estamos tão acostumados aos vagabundos que um caso destes precisa ser destacado.

Unknown disse...

Gente boa existe e é maioria, pena que só as ruins se interessem pela política.

Te desejo melhoras, brigo com minha pedreira renal desde os 16, sei bem o que é isso.

Beijo