Ontem após a leitura do post da Santa sobre os Chaveiros, comentei despretensiosamente, sobre os chamados “presos de confiança” e sobre os “presos arregados”, no final fiz uma pequena menção sobre a lei dos “cheirosos”, sem dar maiores explicações.
Essa expressão eu conheci ainda estagiário de Direito em 1982, quando atuava junto a Pastoral Penal da Arquidiocese do Rio de Janeiro, sendo seu responsável o padre Bruno Trombeta (1927/2003).
Foi nessa época que conheci alguns presídios do estado, o de “Água Santa”, da “Frei Caneca”, o “Vieira Ferreira Neto” e o mais famoso de todos, o da “Ilha Grande”.
Essa expressão eu conheci ainda estagiário de Direito em 1982, quando atuava junto a Pastoral Penal da Arquidiocese do Rio de Janeiro, sendo seu responsável o padre Bruno Trombeta (1927/2003).
Foi nessa época que conheci alguns presídios do estado, o de “Água Santa”, da “Frei Caneca”, o “Vieira Ferreira Neto” e o mais famoso de todos, o da “Ilha Grande”.
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Naquela época nosso trabalho era voltado para assistir aos presos já condenados, viabilizávamos junto a Vara de Execuções Penais os casos de indulto, comutação da pena e outros benefícios que tinham direito os detentos.
O padre Bruno Trombeta era famoso por ser um defensor dos direitos humanos, particularmente dos presos, que dizem ia além das previsões legais, contando-se inclusive uma lenda, que até debaixo da batina o padre Bruno tinha tirado gente da Ilha Grande. Mas uma coisa é certa, apesar de alguns “pecadilhos” do padre, a Pastoral Penal do Rio de Janeiro destacava-se pelo lugar de excelência em estágio e para mim, que vim a militar na área penal mais adiante, foi de grande valia.
O presídio da Ilha Grande, ou oficialmente, Candido Mendes, foi implodido em 1994, por ordem do Governador Leonel Brizola, a história do presídio remonta em 1891, quando o leprosário Lazareto foi transformado em cárcere político, mas essa história fica para depois, porque agora o que me faz escrever são as memórias de um “cheiroso”.
Recordo-me que na minha primeira visita ao presídio da Ilha, recebi recomendações interessantes dos advogados responsáveis pelos processos da Pastoral, como exemplos, não levar ou trazer correspondência desautorizada ou dar dinheiro aos presos, entre outras tantas de segurança, mas uma em especial chamava a atenção dos estagiários de primeira viagem, a recomendação de não levar sabonetes, perfumes, desodorantes ou qualquer outra forma de essência que regularmente pudéssemos usar.
A curiosidade quanto aos perfumes nos foi esclarecida como questão de segurança, explico, é que na alimentação dos presos, tinha entre seus componentes carnes secas e salgadas (peixe, porco ou boi), por outro lado, os presos eram proibidos de usar qualquer tipo de aroma, isso associado a poucos banhos, que quando tomados eram com sabão de côco, o que criava um cheiro especial, diferenciado, facilmente detectado pelo faro dos vira-latas responsáveis pela vigilância ao redor do presídio.
A propósito desses cachorros, quando chegávamos ao presídio, era um abano de rabo só, bem conheciam os animais os cheiros que deviam agradar, por outro lado, pude presenciar uns bons rosnados dos mesmos animais, quando se aproximavam alguns detentos de “confiança” para nos ajudar descarregando alguns materiais que transportávamos. Daí surge a expressão dita dentro do presídio, éramos os “cheirosos”. Assim, por mais que estivéssemos ali para levar ajuda na forma das nossas leis, não fazíamos parte de daquele mundo, que tinha suas leis próprias.
O padre Bruno Trombeta era famoso por ser um defensor dos direitos humanos, particularmente dos presos, que dizem ia além das previsões legais, contando-se inclusive uma lenda, que até debaixo da batina o padre Bruno tinha tirado gente da Ilha Grande. Mas uma coisa é certa, apesar de alguns “pecadilhos” do padre, a Pastoral Penal do Rio de Janeiro destacava-se pelo lugar de excelência em estágio e para mim, que vim a militar na área penal mais adiante, foi de grande valia.
O presídio da Ilha Grande, ou oficialmente, Candido Mendes, foi implodido em 1994, por ordem do Governador Leonel Brizola, a história do presídio remonta em 1891, quando o leprosário Lazareto foi transformado em cárcere político, mas essa história fica para depois, porque agora o que me faz escrever são as memórias de um “cheiroso”.
Recordo-me que na minha primeira visita ao presídio da Ilha, recebi recomendações interessantes dos advogados responsáveis pelos processos da Pastoral, como exemplos, não levar ou trazer correspondência desautorizada ou dar dinheiro aos presos, entre outras tantas de segurança, mas uma em especial chamava a atenção dos estagiários de primeira viagem, a recomendação de não levar sabonetes, perfumes, desodorantes ou qualquer outra forma de essência que regularmente pudéssemos usar.
A curiosidade quanto aos perfumes nos foi esclarecida como questão de segurança, explico, é que na alimentação dos presos, tinha entre seus componentes carnes secas e salgadas (peixe, porco ou boi), por outro lado, os presos eram proibidos de usar qualquer tipo de aroma, isso associado a poucos banhos, que quando tomados eram com sabão de côco, o que criava um cheiro especial, diferenciado, facilmente detectado pelo faro dos vira-latas responsáveis pela vigilância ao redor do presídio.
A propósito desses cachorros, quando chegávamos ao presídio, era um abano de rabo só, bem conheciam os animais os cheiros que deviam agradar, por outro lado, pude presenciar uns bons rosnados dos mesmos animais, quando se aproximavam alguns detentos de “confiança” para nos ajudar descarregando alguns materiais que transportávamos. Daí surge a expressão dita dentro do presídio, éramos os “cheirosos”. Assim, por mais que estivéssemos ali para levar ajuda na forma das nossas leis, não fazíamos parte de daquele mundo, que tinha suas leis próprias.
3 comentários:
Ozeas eu nunca estive em um presídio, mas só pelo fato de se perder a liberdade, no meio de um amontoado de pessoas sem dignidade e respeito próprio já seria o inferno, imagino onde alguns demônios tenham mais poder que outros...
Agora que bacalhau é esse, não consegui entender essa imagem, a princípio achei que era um monte de ..... melequenta.
Ilustrou bem o artigo, ate senti o cheiro...
Inrivel recordação, apesar de achar que arrego pra preso é meio doido.
Quanto a Ilha Grande, apesar de conhecer com a palma de minha mão a sua costa, pescando, nunca pude mergulhar na enseada do presidio por causa dos tiros e eventuais possibilidades de fugas.
A memoria olfativa! Os cães tem uma memória olfativa muito desenvolvida se comparada com a dos seres humanos. Se não me engano é algo relacinado com o número muito maior de cílios que eles tem no interior das narinas.
Eles também possuem memória associativa perene de fatos passados desagradáveis ou dolorosos, tais como ameaças, maus tratos e etc, ao verem pessoas que lhes lembrem, mesmo que vagamente, aquelas que lhes causaram medo ou dor.
Muitos aprendem com maus-tratos e um dia se revoltam contra os donos.
Algo semelhante aos humanos! (rs*)
Sobre o cheiro, nem quero imaginar!
Beijus
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