Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

30 agosto, 2006

Barbárie

A palavra “bárbaro” é de origem grega. Ela designava, na Antigüidade, as nações não-gregas, consideradas primitivas, incultas, atrasadas e brutais. A oposição entre civilização e barbárie é então antiga... O termo ‘barbárie’ tem, segundo o dicionário, dois significados distintos, mas ligados: “falta de civilização” e “crueldade de bárbaro”. (Michael Löwy)

Recorri ao conceito acabado de Löwy para tentar definir um sentimento, perplexidade.

Juarez José de Souza, com 29 anos, matou Edna Tosta Gadelha Souza, de 51 anos, na segunda-feira passada. O Crime aconteceu num bairro de classe média do Rio de Janeiro, Botafogo, seria mais um homicídio, sem direito a destaque ou maiores colunas nos jornais, não fosse a forma, o motivo e os requintes de crueldade presentes no crime.

Juarez ao ser preso, disse que matou Edna porque esta teria chamado-o de “magrinho”, em uma discussão quanto a um estacionamento indevido na porta da clinica veterinária que Juarez trabalhava como vigia.

Decorrido um mês da discussão, Edna esteve no imóvel onde trabalhava Juarez com o fito de possível aluguel do prédio. Juarez abusando da oportunidade, agrediu sua vítima na cabeça com um pedaço de mármore. Com a queda da mulher, seu agressor cortou-lhe o pescoço e esperou que sangrasse, para que então, pudesse cortá-la ao meio com um serrote.

A técnica de divisão do corpo de Edna, executada “com precisão”, foi considerada pelos peritos como “corte cirúrgico amador”, aprendido por Juarez durante suas observações de cirurgias de castração, efetuadas por veterinários na clínica que trabalhava.

Não obstante ao macabro procedimento, o assassino jogou os restos de Edna em dois sacos de lixo, que foram deixados em localidades diferentes da cidade. ( leia mais no
O Globo online e no O Dia online).

Também hoje noticia a imprensa, a volta dos ataques na cidade de São Paulo, patrocinados pelo grupo terrorista PCC. Dessa vez foram duas agências bancárias, um carro e uma base da Polícia Militar (
Leia Mais).

Desta feita não poderia ser alegado o fator surpresa por parte das autoridades responsáveis pela segurança pública, isso porque desde segunda-feira a população já sabia que os ataques voltariam “com proporções ainda não vistas”, isso porque, foram distribuídos pelo PCC, panfletos em diversos pontos da cidade anunciando que a trégua vivida não permaneceria na metrópole (
Leia Mais).

A retroação social vivida pelo país é evidente, nos tornamos vítimas enclausuradas em nossas casas, enquanto ainda as temos; no atacado ou no varejo, não há mais segurança, a paz social devida pelo Estado soberano não existe. O cidadão se defende como pode, ou quem pode, paga por seguranças particulares, condomínios-fortalezas e monitoramentos tecnológicos de última geração. Que não pode, pelo menos tenta, se escondendo atrás de finas grades ou de simples paredes de tijolos, evitando o contato com as ruas e seus perigos ocultos existentes em cada esquina.

As duas notícias indicadas nos dão o verdadeiro significado do momento, é a barbárie sim, é a “falta de civilização”, “a crueldade” extremada, a falta total de proteção.

Dirão alguns que no caso da empresária Edna é isolado e não é o “padrão” geral, erraram por desconhecer a violência e todas as suas formas de manifestação, desconhecem os julgamentos sumários realizados pelas organizações criminosas espalhadas pela cidade, suas penas de torturas e brutais condenações à morte, que incluem desde o esquartejamento, de seus inimigos (de regra policiais ou adversários de crime), a incineração de seus corpos, não raro passando pela violência deliberada contra os familiares de suas vitimas, que também não raramente, são violadas sexualmente e finalmente executadas. Limito os detalhes mais sádicos das práticas empreendidas, para não chocar além do tolerável.

Outros questionarão o status que elevei à “grupo terrorista”, o Primeiro Comando da Capital, a esses pergunto: a qual categoria pertencem esses “bandidos”, que se organizaram a tal ponto, de anunciar seus atentados contra o Estado e a propriedade?

Não sei as respostas, na verdade, nem sei por onde começar a perguntar qual o lado correto para a saída, mas uma coisa é certa, o limite da tolerância já foi ultrapassado a muito tempo, e a luz que existia, não está mais à frente para nos guiar, também já ficou para trás.

Encerro meditando com as palavras de Fritz Utzeri, quando comentou o ataque terrorista às torres gêmeas em 11 de setembro de 2.001, no belíssimo artigo intitulado “Quem cria lobos...”: “A historia da humanidade não é uma linha ascensional contínua em direção a luz ou a razão. Podemos muito bem caminhar para trás, apesar (ou talvez por causa) de nossa imensa tecnologia e nosso poder. Roma e o mundo romano em seu auge eram muito melhores do que a Europa em grande parte da Idade Media” (
Leia todo o artigo).

18 comentários:

Anônimo disse...

Deixo para você trecho do artigo publicado hoje por mim no blog:

“Para àqueles que temem uma reeleição de Lula ainda no primeiro turno por crer que ele poderia se achar maior que tudo e todos, implantando no Brasil uma ditadura populista ala Hugo Cháves, preparem-se para o que você vai ler agora, este pode ser um indício de que suas suspeitas estejam corretas.”

Veja-o completo no

www.blogdopatrick.blogspot.com

Anônimo disse...

Ozéas, boa tarde.

A inércia das autoridades é a explicação mais pausível para esse estado de barbárie em que estamos mergulhados até o pescoço, como você demonstrou.
Todos, executivo, legislativo e judiciário agem como se o problema estivesse ocorrendo em Plutão, o ex.
Só faltam dar uma choradinha de minetira para lamentar os fatos e esquecê-los imediatamente.
O fato é que a sociedade está perdida entre essa inércia e a audácia cada vez maior dos bandidos.

Beijos

Anônimo disse...

Nossos lobos foram criados há 500 anos, Ozéas: escravidão, segregação etc. Hoje eles vêm apenas cobrar a conta. Muito bom o teu blog. Parabéns! Cá retonarei mais vezes. Abraços!

Serjão disse...

Entendeu agora pq o meu único sonho de consumo na vida é ir embora desta cidade? Desculpe Ozeas. Mas acho que eu estou meio frio ou resignado, sei lá. mas eu discordo de vc numa coisa. Se o corpo desta senhora estivesse em Santa Cruz e a cabeça em Campo Grande me desculpe mas acho que nem seria notícia.
Um forte abraço

Ricardo Rayol disse...

Mestre Ozeas, como sempre mandou muito bem. O caso da senhora particionada é o tipo de coisa que, infelizemnete, ocorre em todos os locais do mundo. Motivo torpe e meio cruel mas não sei se representa alguma manifestação tendenciosa. O cara é louco e devia receber uma bala na testa para poupar os cofres publicos de sustentar esse maniaco. No caso do PCC tenho certeza que está mais do que na hora de a lei se adaptar ao terrorismo e mandar ver em cima dessa corja.

Anônimo disse...

Por estes dias eu estive com uma gripe terrivel e fui obrigada a ficar de repouso quase absoluto e , portanto , a saida foi ver televisao quase todo o dia.Fiquei impressionada com a violencia de TODOS os programas inclusive os desenhos animados. Morte, pontapes, socos de todas as formas, em mulheres, crian�as, velhos , duendes o escambau. Sangue espirrando,e scorrendo para todo lado.Uma coisa impressionante.Atores famosos, metidos a bonzoes filmando odes � violencia descabida e sem sentido.Se vc imaginar que as crian�as assistem isso dia a dia, mes a mes, ano a ano tem uma pequena e grosseira explicacao mesmo pq o mais violento e mau e sempre o heroi.A cultura norte americana do vencedor a qualquer custo e com violencia de preferencia tomou conta do Brasil, sabidamente terra de macaquitos.

Santa disse...

Ozéas querido

Um ano do Blog da Santa eu não poderia deixar de agradecer atenção e carinho que sempre recebi. Bjs

Elaine disse...

Ozéas, o ser humano por si só é extremamente perverso. No caso da empresária, o assassino provavelmente, tem outros históricos nesse sentido. E, já lemos nos jornais alguns de seus antecedentes, fora o que não foi descoberto. Foi talvez, sua primeira oportunidade de cometer um crime mais cruel, sendo a vítima, mulher, com idade avançada e mais frágil. A partir desse crime, o assassino, vai ousar cada vez mais no requinte de crueldade.
Quanto ao PCC, você não exagerou. É TERRORISMO MESMO.
Tenho um amigo que diz o seguinte: Deus deveria acabar com o mundo e começar tudo de novo. Nós somos a pior espécie do universo.
No começo fiquei chocada com seu comentário, mas, se persarmos bem, talvez, ele não esteja tão errado.
Beijins ao Mestre com Carinho.
Elaine

Walter Carrilho disse...

Daqui a alguns séculos o Brasil entra na Idade Média. Quem sabe?

Luma Rosa disse...

Vim correndo e acabei por estatelar escadas abaixo!! (rs*)
Essa violência que aflora no ser humano, nada mais é do que a manifestação do meio em que ele vive. O Estado colabora não impondo limites. Está uma baderna! As leis servem no momento para os corretos, os tortos a ludibriam, riem da sua cara!
O que iremos fazer? Voltar aos tempos do "olho por olho, dente por dente?"
Bom fim de semana!! Beijus

Lata Mágica Recife disse...

Amigo Ozéas, estamos com a primeira Exposição Virtual da Lata com o foco no envelhecimento da imagem.

Local: Blog Lata Mágica.
Endereço: http://latamagica.blogspot.com/
Horário: 24 horas
Dias: Domingo a Domingo.

Abraços dos amigos: Willam & Odilene

Anônimo disse...

Ozéas, muito bom o texto e o artigo indicado. O que faremos mais contra o insano?

beijos

Anônimo disse...

Ozeas,

Depois de ler a notícia que adolescentes mineiras bateram e derrubarem no chão uma colega de escola e não contentes encheram a boca da menina com areia o que a levou a morte...

A geração que vem vindo é a imagem e semelhança dos pais e do país.

É a barbárie mesmo!!!

Bom fim de semana, beijo.

Alexandre, The Great disse...

Professor Ozéas.

Também concordo com a afirmação de Utzeri. A Humanidade pode sim retroceder às trevas, é exatamente isto que estamos vivendo.

No meu entendimento não existe nenhuma diferença entre os episódios narrados no seu texto e aquele que ocorreu em 753 a.C. por ocasião da fundação de Roma.

Historiado por Tito Lívio, ficou conhecido como o "Rapto das Sabinas", uma invasão bárbara a aldeia dos sabinos, o parricídio e o estupro das mulheres.

Você vê diferença?

Anônimo disse...

Deputada fez emendas que favorecem sindicato do marido

Da Folha de S.Paulo, hoje (02.09.2006):

"A deputada federal Jandira Feghali (PC do B), candidata ao Senado pelo Rio, destinou R$ 3,8 milhões em emendas parlamentares em 2005 e 2006 que resultaram na instalação duma rede de simuladores aquaviários na sede do Sindmar (Sindicato Nacional dos Oficiais Marítimos), presidido por seu marido, Severino Almeida Filho.

O dinheiro foi usado para a compra do equipamento (equivalente aos de vôo) importado dos EUA que está sendo instalado no sindicato, no centro do Rio. A aquisição dos computadores ocorreu por meio de convênio entre o sindicato e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A verba foi liberada para a UFRJ, mas o produto está sendo montado em um andar inteiro do Sindmar. O equipamento serve para treinar navegadores, simulando situações de crise e os habilitando a enfrentar condições adversas.

A deputada alega que as emendas foram feitas para a universidade a pedido do reitor Aloisio Teixeira -que, diz, é seu amigo e recebeu seu apoio para a eleição na universidade. Jandira afirmou que desconhecia o local de instalação dos simuladores:

"Jamais faria emenda para um sindicato. Fiz a emenda para a UFRJ, não para o Sindmar. Em dezembro de 2004, eles nem sabiam onde instalariam o simulador. A decisão foi posterior", disse ela."


Assinante da Folha leia mais aqui:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0209200619.htm

ou no noblat aqui:

http://noblat1.estadao.com.br/noblat/visualizarConteudo.do?metodo=exibirPosts&data=02/09/2006#post25051

e ainda aqui:

http://www.diarioam.com.br/novo_site/noticias.php?idN=30674

Anônimo disse...

Quando eu ouvi a reportagem na CBN tive pensamentos semelhantes... rapidamente transformados por uma vontade louca de retalhar o covarde.

O sujeito além de psicotico é covarde. A conjuntura atual não inibe qualquer censura para um ato extremo como esse, mas a covardia sempre proporciona requintes de crueldade.

Anônimo disse...

Boa tarde mestre Ozéas: Nossa! Chocante esse post... A questão é para onde estamos caminhando? Eu soube hoje que 28% dos jovens INTERNOS na FEBEM são da CLASSE MÉDIA! Onde iremos parar? :-) bjs de fãzona

Marco Aurélio disse...

Ozéas

O caso da empresária Edna não é isolado. A violência contra a mulher aqui neste país faz parter da nossa "cultura". Pelo menos semana passada as leis contra esta situação ficaram um pouco mais duras.

Té mais