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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

06 agosto, 2015

Perdulários ou gananciosos


Pegando carona nos XVII Jogos Pan-Americanos, realizados no mês julho em Toronto, Canadá, acho que podemos fazer uma boa reflexão sobre as importância desse tipo de acontecimento para um país, especialmente, quanto ao que fica para a sociedade como legado do evento.

Inobstante a visibilidade internacional durante as competições, forjada ao custo de US$ 2,5 bilhões – edição mais cara dos jogos Pan-Americanos –, é certo que esse investimento ainda representará para o país ganhos futuros no turismo, na indústria e no comércio internacional, assim como um legado, aquilo que foi deixado no final da festa para que sua população usufrua além dos quinze dias do torneio olímpico.

Especialmente, um exemplo dessa herança esportiva me chamou a atenção ainda durante as competições, foi o caso do estádio onde foram realizadas as provas de atletismo. Tendo que construir acomodações para abrigar essas modalidades, os canadenses optaram por reformar e ampliar as instalações da Universidade de York.

De igual maneira, construíram um centro aquático para as competições de natação, saltos ornamentais e nado sincronizado, desta feita a instituição de ensino superior contemplada foi a Universidade de Toronto Scarborough – campus satélite da Universidade de Toronto.

Os canadense mostraram que é possível otimizar as despesas dos jogos através de um legado social de fato, deixando como patrimônio para aquelas universidades as instalações construídas com dinheiro público. O exemplo sugerido afirma que com criatividade e boa vontade, o pós-jogos pode significar muito mais que ganhos auferidos com as sempre suspeitas privatizações de fim de função.

Em tempos de vacas magras – e bota magras nisso! –, enquanto a Autoridade Pública Olímpica – Rio 2016 – anuncia gastos na ordem de R$ 38 bilhões como custo total dos jogos, o governo estadual está cortando R$ 550 milhões da educação, assim como a administração federal tesoura R$ 1 bilhão na mesma rubrica, fico pensando por que no momento oportuno não seguimos o modelo canadense, ampliando, reformando e construindo nossas sedes olímpicas nas universidades do Rio de Janeiro.

Os jogos de Toronto – Pan e Parapan –, receberam aproximados 7.000 atletas de 41 nações, portanto, foram construídas instalações de moradia para todos. Ora, que herança bendita seria que após a devolução das chaves de moradia dos 10.500 atletas olímpicos e 4.350 paralímpicos visitantes no Rio de Janeiro em 2016, pelo menos parte da vila olímpica fosse destinada como residência estudantil, este, um simples exemplo de tudo que seria possível fazer.

Crio este exemplo – mas poderiam ser outros, muitos outros –, porque em penúria as universidades públicas no Rio de Janeiro mal têm dinheiro para pagar suas despesas correntes, falta para luz, gasolina ou papel higiênico, as manifestações das suas comunidades acadêmicas há muito deixaram de ser precipuamente por melhores salários, hoje lutam para continuar funcionando com mínimas condições, investimentos em obras de reforma, ampliação ou construção quando muito só em caráter emergencial, fora disso é coisa impensável.

Enquanto isso, o que se vê é o soerguimento de uma cidade olímpica na capital fluminense, bela, moderna e suntuosa, porém, inconsequentemente esbanjadora para os padrões de carência que temos. Mais uma vez perdemos a oportunidade de com uma só despesa fazer as Olimpíadas e usufruir ao máximo o legado dos jogos – assim como no Pan 2007 e na Copa 2014.

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