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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

20 agosto, 2015

“Arroz, feijão, saúde, educação!”




Em ressaca das manifestações ocorridas no último final de semana, como quem “não fui”, achei oportuno registrar algumas notas que surgiram, observando um evento político de cunho e patrocínio notadamente liberal.

Ao que pese aventuras pedindo “Intervenção Militar” em nome da democracia, “Volta Sarney” e “Porquê não mataram todos em 1964”, entretanto, em confesso tom de ironia, pretendo comentar outras contradições pontuais, despercebidas no meio de tanta confusão, que me chamaram a atenção conforme faixas e cartazes empunhados.

Acho intrigante que um autentico liberal se aventure a reclamar da rede pública de saúde, afinal, como alguém que prega a intervenção mínima do Estado pode pretender assistência comum?

Um convicto liberal – pelo menos na cartilha –, acredita que socorro médico de qualidade é coisa para quem pode pagar, se muito, um bom plano cobrindo do Barra D’Or ao Sírio Libanês, se pouco, uma modesta enfermaria em específica cadeia credenciada, se nada, restam os obséquios dos bem feitores, as instituições religiosas, a rede pública ou então um hospital universitário para prática de seus alunos. Assim sendo, liberal reclamando de saúde pública me parece pura contradição.

Coisa interessante também é ver um liberal de carteirinha se queixando dos lucros bancários, da ausência de regras mais rígidas para gerência de preços, do não controle do dólar e das importações.

Incoerente, afinal, conforme todo liberal sabe, quem deve regular o mercado é a lei de oferta e procura, portanto, tudo que pretende é pouco Estado e que os negócios se ajustem por conta própria, ou seja, “deixando que as abóboras se acomodem conforme o andar da carroça”.

Facecioso é admirar um autêntico liberal reclamando do sistema público escolar.  Educação e saúde para um genuíno defensor da livre iniciativa, seguem as mesmas regras do abecedário geral, ou seja, se a qualidade não é de graça, tão pouco o colégio deve ser um “produto” para todos, portanto, é a “mão invisível do mercado” que deve regular a quantidade e qualidade dos serviços prestados.

Ainda sobre educação, para mim é paradoxal que um pai liberal – do tipo que diz que FIES e Prouni é coisa de comunista –, pague caro por escolas e cursinhos cobiçando que seus filhos ingressem em universidades públicas e, mais disparatado ainda, pretendendo como objetivo vê-los concursados e aprovados em carreiras públicas, em nome de uma estabilidade que só o Estado proporciona, longe da “selvagem” competição do mundo privado.

Liberal reclamando de pensões é outra caçoada. Sendo coerente, Liberal com “L” maiúsculo não deveria sequer pensar em se aposentar pelo INSS, mas tão somente com poupança de previdência privada e rendimentos de fundos de ações disputados no mercado. Contudo, nunca vi um fidedigno liberal pedindo leis que substituam as contribuições do INSS, por investimentos na Bolsa de Valores ou em favor de algum título de capitalização.

Enfim, parando por aqui, antes que o deboche me cause mais inimigos, todavia, confiro que nossos liberais no final das contas, além de não gostarem muito de viver conforme os mandamentos de seus á-bê-cês, bem que se aninham carentes de um Estado protetor.

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