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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

17 janeiro, 2012

O futebol e os Imperativos Categóricos de Immanoel Kant

"Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza".

"A máxima do meu agir deve ser por mim entendida como uma lei universal, para que todos a sigam".

"Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio".

Interessante olhar o futebol através do olhar filosófico, ainda que seja sobre uma simples entrevista.

Observando o “chororô” da mandatária flamenguista, Sr. Patrícia Amorim, durante sua coletiva à imprensa ontem a noite, pode-se observar que há no mínimo uma contradição performativa no seu comportamento, ou seja, aquilo que a dirigente fala e critica, não corresponde às práticas usuais no seu mandato e, muito menos na própria história de seu clube.

Comecemos “do início”, lá no momento de fundação do departamento de futebol do clube de regatas flamengo – permito-me, como fanático Tricolor, nunca usar letras maiúsculas em nomes impróprios. Pois bem, como diria o personagem de Chico Anísio, “Pantaleão Pereira Peixoto”, sucedeu-se lá em 1912 todo início de nossa história, o Fluminense, Campeão Carioca de 1911, pela quinta vez desde o início do campeonato do Rio de Janeiro, ao final do torneio teve seu time assediado pelo então somente clube de regatas flamengo, que através de várias promessas e artifícios, arrematou nove jogadores do Fluminense do time principal para sua legião, fundando assim seu departamento de futebol.

Já ouvi algumas bobagens do tipo: “filho do Fluminense”, “origens tricolor” etc., mas que nada, discordo veementemente, quando muito o vejo como um bastardo, irreconhecido, não por falta de dever paterno, mas por algo próximo com o que hoje chamaríamos de “golpe da barriga”; assim, nossas origens são bastante diversas: por um lado o Fluminense, fundado por Oscar Cox, trazido da Inglaterra para o Brasil, através do mais fiel espírito esportivo, dentro do diapasão do seu próprio hino que entoa, “usando a fidalguia”; por outro lado, o surgimento de um departamento de futebol criado a partir da apropriação indébita, da dissimulação e daquilo que tanto “dona” Patrícia Amorim exige, da falta de ética.

Surgem assim nossas primeiras rivalidades e diferenças; recordando nosso filósofo moderno: “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza", ou seja, não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você.

Mas os “deuses do futebol” foram justos, vingaram o Tricolor das Laranjeiras já no primeiro confronto entre os dois clubes, quando em 7 de julho de 1912, os reservas do Fluminense, a exceção de dois fieis guerreiros que permaneceram, promovidos em razão da usurpação narrada, venceram por 3 X 2 os jogadores (titulares) ex-campeões do certame de 1911 – “ex”, porque eles se foram, mas o título permaneceu com o Fluminense.

Voltando aos dias presentes, podemos observar e cotejar um pouco mais o discurso da “dona” Patrícia.

Popularmente consagrado versa o ditado: “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, daí destaque-se alguns pontos da entrevista coletiva e aplique-se a sabedoria popular a prática usual do time da Gávea:

A dirigente acusa o Tricolor que, “pelo que se sabe, está atravessando a negociação em cima de um poder financeiro muitas vezes inflacionando o mercado e acho que é um desserviço ao futebol”. Ora, “dona” Patrícia, atém onde se sabe, não existe acordo nenhum fixado entre os clubes no país, estabelecendo um teto salarial ou de valores à compra de direitos dos jogadores; particularmente, até considero um absurdo que o futebol consiga promover mais riqueza que o conhecimento científico ou trabalhos de dimensão tecnológicos mais avançados, todavia, dentro do liberalismo selvagem do sistema, não há ruptura com qualquer regra do jogo.

A propósito, bem se pode lembrar na história recente, ainda na gestão Patrícia Amorim, foi “repatriado” o jogador Ronaldinho “Gaúcho”, bem como pretende (?) o jogador Wagner “Love” e mesmo cogitou o retorno do “imperador” Adriano, entre outros, é de sabença que em todas essas negociações, se discute valores na órbita de milhões de dólares; mesmo a questão do Thiago Neves, o clube patriciano estaria disposto a pagar semelhante valores, entretanto, como não tem dinheiro para ajustar os compromissos mais urgentes (luz, telefone, direito de imagem e salários dos demais jogadores), buscou parcelar em prazo maior, aquilo que a presidenta chama de “inflação”.

Portanto, vale lembra o segundo imperativo categórico kantiano: "A máxima do meu agir deve ser por mim entendida como uma lei universal, para que todos a sigam", em outras palavras, a minha maneira de agir deve ser o modelo para todos os demais.

Ainda, “dona” Patrícia Amorim diz que o clube que dirige, “trabalha de uma forma honesta, clara e ética, se nem todos trabalham assim, paciência, que Deus os perdoe” e que, “o flamengo é correto, o flamengo é decente, a gente procura fazer uma coisa de uma forma que respeitemos os coirmãos apesar das disputas”. Não pretendemos discutir a ética, a transparência, todavia, duvidamos da honestidade usual do clube rubro-negro, até porque não são tão claras as negociações do “indignado” com a Rede Globo, como também não foram aquelas que retiraram o Ronaldinho do Grêmio no ano passado e, muito menos, há dados seguros para se afirmar de honestidade no episódio do que foi chamado pela imprensa de “escândalo das papeletas”, envolvendo o Léo Rabello, então dirigente flamenguista, na suposta compra de árbitros, assim, para todas essas questões restam os noticiários e as pesquisas no Google, cada um que tire suas conclusões; inobstante, é bom lembrar que várias vezes o flamengo “atravessou” não só negociações envolvendo o Tricolor, como também, já foi buscar jogadores de base dentro dos gramados do Fluminense, mas isso a “dona” Patrícia não se recorda, mas deixa pra lá, afinal, há outro dizer popular que bem ilustra a situação: “que bate esquece, quem apanha, nunca esquece”.

Finalizando com o terceiro postulado kantiano: "Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio", ou, não use o outro como instrumento que atenda somente as suas necessidades, mas que o outro sirva da mesma forma que você servirá a propósitos comuns, onde não haja vencedores ou vencidos, mas comuns e respeitados ganhadores.

Desde o final do ano, o flamengo não tem dinheiro para honrar seus compromissos, isso é fato notório; seus patrocinadores não acreditam no retorno de grandes investimentos; a Traffic não gostou muito de ver mais um patrocínio na camisa do clube e não participar nos lucros como combinado; o BMG não quer correr o risco com um time que promete muito, mas ficou aquém do esperado no ano de 2011, e assim vai. A questão é que o flamengo, “ético”, “claro” e “honesto’ da “dona” Patrícia não aceita que alguém possa fazer o que ele não faz; ora, sem contrato desde o final da temporada, assediado por outros clubes no mercado – o São Paulo inclusive enviou proposta para os árabes – Thiago Neves não poderia, nem deveria, ficar a mercê da disponibilidade de caixa do flamengo por prazo indeterminado, ou como querem seus dirigentes, até vencer os detentores de seu passe por insistência ou cansaço.

A permanência de Thiago Neves no Rio de Janeiro é vitória para o para o Fluminense, como também para o futebol do Estado, obviamente, que manter o jogador no Brasil, num clube com reais chances num torneio internacional é mais que salutar, ainda que não se espere que o pessoal da Gávea venha a aplaudir a mudança de camisa do jogador, porém, a crítica que se faz a posição da presidente Patrícia é que não se deve usar de um discurso falacioso e montado sobre críticas infundadas, para justificar a incapacidade administrativa, financeira e negocial de sua gestão, diante de seus desavisados torcedores.

Um comentário:

José Eliezer disse...

O Flamengo está numa situação tão complicada a ponto de estar fazendo publicidade dentro da novela do Divino na Globo. A logomarca do Flamengo aparece junto com a Embelleze e a Maionese Hellmann's.