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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

29 janeiro, 2012

As escolhas e seus preços

O quanto podemos fazer, o quanto queremos fazer e o quanto podemos mudar tudo em nossas vidas, muitas vezes está no tamanho de nossas ambições ou na disposição de sair de posições de conforto, porém, isso implica num preço a pagar.


Por que falar em voar, se é mais fácil ficar sentado, olhando, esperando a vida passar; por que se arriscar e expor a vida, se a vida é mais fácil e tranquila longe dos holofotes e responsabilidades.


Compartilho com os amigos do Blog, nesse domingo chuvoso, o texto do Luiz Fernando Veríssimo “o homem que voa”. Bons vôos ou boa novela.

Geraldo e Marina estão casados há 15 anos. Uma noite - os dois sentados no sofá da sala assistindo à novela - Geraldo diz:
- Marina, preciso te contar uma coisa.
- O que, Geraldo?
- Eu voo.
- Você o que, Geraldo?
- Eu posso voar.
- Que loucura é essa, Geraldo?
- É verdade. Descobri quando eu tinha uns 11 anos. Se eu quiser, posso sair voando agora mesmo.
- Geraldo, para de dizer bobagens e deixa eu assistir à novela.
- Você não acredita? Então olhe só.
E Geraldo decola do sofá, dá algumas voltas por dentro da sala, sai pela janela aberta, circunda o prédio da frente, volta e senta de novo no sofá.
Marina desmaia.


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Já restabelecida, Marina pergunta:
- Por que você nunca me disse nada? Por que esperou até agora para me dizer?
- Eu queria ter certeza que o nosso casamento era sólido. Que você não se apavoraria com a revelação, que acabaria se acostumando com ela. Achei que depois de 15 anos não havia mais perigo de você sair correndo.
- Mas você nunca falou pra ninguém que pode voar? Nunca contou?
- Não. Na escola, eu já era meio esquisito. Se descobrissem que eu também voava, não iam largar do me pé. Meus pais também se assustariam. Você é a primeira pessoa a saber.
- Mas Geraldo... Todos precisam saber que você voa. Você é um fenômeno da Natureza! Um caso único. Tem que ser examinado pela Ciência...
- Deus me livre.
- Nós podemos ganhar dinheiro com isso. Você virará uma celebridade internacional. Se apresentará em shows. Já posso até ver você chegando no palco pelo ar e...
- Tá doida. A coisa que eu menos quero no mundo é atrair atenção.

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- Quando é que você voa? - pergunta Marina.
- Às vezes, de noite, quando você está dormindo, eu saio pela janela e sobrevoo a cidade. Com a lua cheia, é bonito.
Marina (sentida):
- E você nunca pensou em me levar junto para passear ao luar, como o Super-homem fazia com a mocinha no filme... Geraldo! E se você for o novo Super-homem?! Um Super-homem de verdade? Você pode ser o herói que o mundo está esperando.
- Eu, Super-homem, com esta cara, com este físico, com esta gastrite crônica? Não, obrigado. Prefiro continuar como técnico contábil, com a minha vidinha de sempre.
- Mas Geraldo...
- E você tem que jurar que não vai contar pra ninguém, Marina. Jura.
- Está bem, Geraldo. Eu juro.

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E os dois continuam com a vidinha de sempre. De vez em quando ela faz um pedido, como:
- Bem, uma lâmpada do lustre queimou. Você pode trocar pra mim?
E o Geraldo voa até o teto, muda a lâmpada do lustre e volta para o sofá. E os dois continuam vendo a novela.

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