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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

28 julho, 2009

Dia do Perú

Proclamada pelo argentino José de San Martins, em 28 de julho de 1821, a independência peruana dos domínios espanhóis, tal como a nossa, estava longe de ser a consolidação da vontade popular, representando mais a troca de poder entre grupos, ou seja, entre o domínio antigo da elite subordinada ao governo central, pela elite local colonizadora, que pretendia liberdade de enriquecimento sem vínculos externos.

Tendo enfrentado pela história disputas territoriais com o Chile e Equador, consolidou sua soberania em 1999, quando a partir de então todos os litígios físicos do país andino cessaram.

Não menos turbulenta é a história econômica e política daquele país, merece ser estudada para conhecermos um pouco mais alguns efeitos reflexos no continente, alguns países, que não coincidentemente, possuem alguns traços de formação e consolidação nos seus processos de afirmação da democracia.

O Perú deu ao continente um dos maiores escritores da atualidade, Mário Varga Llosa, de quem pude ler “Conversa na Catedral”, “Batismo de Fogo”, “Pantaleon e as Visitadoras”, que virou filme, e para mim sua obra maior, “A guerra do fim do mundo”, história romanceada da nossa “Guerra de Canudos”, quando Antonio Conselheiro foi finalmente derrotado pelo exército do Cel. Moreira Cesar.

A propósito, Mario Varga Llosa concorreu à presidência do Perú em 1990, pela Frente Democrática, coligação de centro-direita, quando foi derrotado por Alberto Fujimori, uma pena para sua biografia e maior ainda para a história continental.

Sobre Fujimori, exercendo um terceiro mandado, questionável quanto a sua constitucionalidade, assumido em julho de 2000, teve seu final em novembro do mesmo ano, depois de um escândalo sobre suborno, um “mensalão peruano” se é que podemos chamar assim, já que envolvia pessoa de seu governo, seu Chefe de Inteligência, que foi flagrado em gravações de televisão subornando um político para mudar de lado.

O escândalo inicialmente político, logo passou a fazer parte de uma grande teia de atividades ilegais, inclusive desfalques, tráfico de drogas e violações de direitos humanos cometidas durante a guerra contra o Sendero Luminoso. Não havia outra saída, Jujimori foi forçado a convocação de novas eleições e se exilou no Japão.

Posteriormente, em 2005, Alberto Fujimori volta para a America do Sul, se exilando no Chile, entretanto, em 2007 a justiça daquele país atende a um pedido de extradição formulado pelo governo peruano e Fujiomori é julgado, por corrupção, evasão de divisas, enriquecimento ilícito e genocídio.

Alberto Fujimori que tem condenação em 25 anos de prisão por genocídio, ainda responde a um processo por peculato, sendo acusado de pagar uma indenização milionária ao seu ex-chefe de Inteligência, Vladimiro Montesinos, em setembro de 2000, pouco depois de estourar um escândalo de corrupção no país.

No dia comemorativo da independência peruana, em situação de rara admiração, gostaria de ver a máquina do judiciário brasileiro julgando presidentes, ex-presidentes, senadores, deputados e todos mais. Mais ainda, diante dos fatos históricos que conhecemos no Brasil, sentiria um enorme orgulho em ter também um presidente preso, cumprindo um quarto de século de prisão.

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