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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

10 outubro, 2012

Farinha do mesmo saco ou dane-se a população



Devo ter sido uma das primeiras pessoas a elogiar a campanha do Flávio Serafini, fiz isso publicamente, durante todo o processo, e imediatamente ao término das apurações, na própria rede social do Faceboock. Ainda que partidário da candidatura pedetista do Felipe Peixoto, reconheço, falei e agora confirmo, Flávio pautou-se no primeiro turno eleitoral da cidade de Niterói/RJ em proposta concretas, ainda que muitas vezes, em minha opinião, inexequíveis  mas com o devido espirito democrático, ouvimos, avaliamos e respeitamos; outra característica da campanha do Flávio foi sua retidão de comportamento, pelo que pude acompanhar, o então candidato a prefeito agiu de maneira ética e concentrou seus esforços na divulgação de sua plataforma. Enfim, Flávio foi o que esperávamos de um candidato durante a eleição: um agente político, partidário, divulgador de compromissos, assumidos publicamente à sua realização.

Passado o primeiro turno, Niterói se vê diante da obrigação constitucional de alcançar maioria dos votos validos entre os dois primeiro colocados, no caso, Rodrigo Neves (PT) e Felipe Peixoto (PDT), ambos estarão no dia 28 de outubro cumprindo essa proposta, de buscar a máxima representação entre os cidadãos, a guisa da maior legitimidade possível, conforme as regras vigentes.

Logo que foi encerrada a apuração, imediatamente, se verificou que o terceiro colocado no pleito, Flávio Serafini (18,40%) e o quarto colocado, Sérgio Zveiter (8,80%), se tornaram com seus percentuais, peças fundamentais e estratégicas à maioria que se pretende obter na próxima etapa.

Como esperado, a adesão de Sérgio Zveiter ao candidato do Partido dos Trabalhadores - PT, Rodrigo Neves, foi instantânea; afinidades, compromissos e mesmo participação em grossas fatias do poder estadual e federal, aproximou o que naturalmente já se confunde na prática, Rodrigo e Zveiter, embora não sejam iguais, são muito semelhantes e possuem os mesmos aliados em outras empreitadas .

Por sua vez, Felipe Peixoto, ligado ao atual prefeito Jorge Roberto Silveira através de sua sigla partidária, o Partido Democrático Trabalhista – PDT, buscou o flerte político com Flávio Serafini, não tanto pelas mesmas razões da dobradinha Rodrigo/Zveiter, porém, pelo compromisso de renovação e transparência administrativa, através de uma gestão social-democrática, que se confirmada a aproximação ao PSOL, mais estreitaria os vínculos e compromissos sociais e evolucionistas da sociedade niteroiense.

Todavia, acompanhando o noticiário, verifico que Flávio Serafini, ou o PSOL, esse detalhe não faz diferença, nega as flores de aproximação do Felipe-PDT, típicas de um namoro, que poderia selar uma aliança socialmente comprometida com a melhoria das condições de vida dos cidadãos de Niterói.

Ao que parece, assim leio no noticiário, Flávio não quer a aproximação, para ele todos são iguais, nada diferencia Felipe de Rodrigo, chegando ao ponto de inicialmente pregar o voto nulo no segundo turno, recuando, porém, diante da radical e evidente estreiteza de sua posição, passando para o discurso da “liberação” de seus eleitores, algo como se lavasse as mão do processo político que virá.

Um tanto quanto arrogante a postura do PSOL, ou do Flávio, pouco importa, que faz ares de última bolacha do pacote (palavras de minha filha), ou do cara mais bonitão da cidade, cujo às meninas só restam duas opções diante de uma solteirice inevitável: “ou eu ou ninguém”.

Política se faz com avanços, ora mais rápidos e profundos, ora mais rasos e lentos, porém, jamais se pode conspirar ou aceitar recuos. Ao optar pela “neutralidade”, Flávio-PSOL abandona seus 18,40% de eleitores a sorte do “Deus dará”, ou seja, com ou sem a participação do Flávio-PSOL, haverá um prefeito eleito após 28 de outubro, isso é certo, todavia, visando não se “contaminar”, o ex-candidato usa do discurso da equivalência dos remanescentes como se eles fossem iguais.

Querido Flávio, diz a sabedoria, que nem os dedos das nossas mãos são iguais, da mesma forma, incluo gêmeos univitelinos, ou qualquer objeto, ainda que produzidos numa mesma prensa ou fundição. Se todas as coisas no mundo possuem a essência da unidade, principalmente, assim são as pessoas.

Retirar essa característica, a unidade, é desprezar o que torna cada coisa especial, é considerar toda farinha de um mesmo saco como igual, ainda que nesse mesmo caso, cada grão tenha sua microscópica identidade. 

Entre o branco e o preto, há uma infinidade de tons de cinza; Felipe não é Rodrigo, Rodrigo não é Felipe, disso nenhum de nós tem dúvida, ainda que, oportunisticamente, se possa usar desse chavão.

A omissão do PSOL terá um preço a pagar, cuja fatura será debitada não ao partido, mas à população; a estratégia lógica-instumental de se eximir a escolher quem apoiar no segundo turno em Niterói, visando unicamente garantir a imagem de “integridade”  partidária é muito cara e dolorida, principalmente para os mais necessitados e combalidos.

A mim, mais me parece, que é a mensagem transmitida é algo como: “bem feito pra vocês, que não escolheram o melhor”; o “danem-se” político não é justo com o povo, seja Felipe ou Rodrigo, o Flávio-PSOL tem o compromisso público de indicar um dos dois, o candidato-partido não se representa mais sozinho, é detentor de 18,40% da população eleitoral, sua aparente neutralidade é mais comprometedora do que possa parecer.

Coragem Flávio, assuma a responsabilidade que seus eleitores depositaram em você; coragem PSOL, não tenha vergonha de ultrapassar a capa turva que cobre a água, por baixo dela pode fluir água limpa e cristalina, que vocês podem estar ajudando a resgatar.

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