Recorri ao conceito acabado de Löwy para tentar definir um sentimento, perplexidade.
Juarez José de Souza, com 29 anos, matou Edna Tosta Gadelha Souza, de 51 anos, na segunda-feira passada. O Crime aconteceu num bairro de classe média do Rio de Janeiro, Botafogo, seria mais um homicídio, sem direito a destaque ou maiores colunas nos jornais, não fosse a forma, o motivo e os requintes de crueldade presentes no crime.
Juarez ao ser preso, disse que matou Edna porque esta teria chamado-o de “magrinho”, em uma discussão quanto a um estacionamento indevido na porta da clinica veterinária que Juarez trabalhava como vigia.
Decorrido um mês da discussão, Edna esteve no imóvel onde trabalhava Juarez com o fito de possível aluguel do prédio. Juarez abusando da oportunidade, agrediu sua vítima na cabeça com um pedaço de mármore. Com a queda da mulher, seu agressor cortou-lhe o pescoço e esperou que sangrasse, para que então, pudesse cortá-la ao meio com um serrote.
A técnica de divisão do corpo de Edna, executada “com precisão”, foi considerada pelos peritos como “corte cirúrgico amador”, aprendido por Juarez durante suas observações de cirurgias de castração, efetuadas por veterinários na clínica que trabalhava.
Não obstante ao macabro procedimento, o assassino jogou os restos de Edna em dois sacos de lixo, que foram deixados em localidades diferentes da cidade. ( leia mais no O Globo online e no O Dia online).
Também hoje noticia a imprensa, a volta dos ataques na cidade de São Paulo, patrocinados pelo grupo terrorista PCC. Dessa vez foram duas agências bancárias, um carro e uma base da Polícia Militar (Leia Mais).
Desta feita não poderia ser alegado o fator surpresa por parte das autoridades responsáveis pela segurança pública, isso porque desde segunda-feira a população já sabia que os ataques voltariam “com proporções ainda não vistas”, isso porque, foram distribuídos pelo PCC, panfletos em diversos pontos da cidade anunciando que a trégua vivida não permaneceria na metrópole (Leia Mais).
A retroação social vivida pelo país é evidente, nos tornamos vítimas enclausuradas em nossas casas, enquanto ainda as temos; no atacado ou no varejo, não há mais segurança, a paz social devida pelo Estado soberano não existe. O cidadão se defende como pode, ou quem pode, paga por seguranças particulares, condomínios-fortalezas e monitoramentos tecnológicos de última geração. Que não pode, pelo menos tenta, se escondendo atrás de finas grades ou de simples paredes de tijolos, evitando o contato com as ruas e seus perigos ocultos existentes em cada esquina.
As duas notícias indicadas nos dão o verdadeiro significado do momento, é a barbárie sim, é a “falta de civilização”, “a crueldade” extremada, a falta total de proteção.
Dirão alguns que no caso da empresária Edna é isolado e não é o “padrão” geral, erraram por desconhecer a violência e todas as suas formas de manifestação, desconhecem os julgamentos sumários realizados pelas organizações criminosas espalhadas pela cidade, suas penas de torturas e brutais condenações à morte, que incluem desde o esquartejamento, de seus inimigos (de regra policiais ou adversários de crime), a incineração de seus corpos, não raro passando pela violência deliberada contra os familiares de suas vitimas, que também não raramente, são violadas sexualmente e finalmente executadas. Limito os detalhes mais sádicos das práticas empreendidas, para não chocar além do tolerável.
Outros questionarão o status que elevei à “grupo terrorista”, o Primeiro Comando da Capital, a esses pergunto: a qual categoria pertencem esses “bandidos”, que se organizaram a tal ponto, de anunciar seus atentados contra o Estado e a propriedade?
Não sei as respostas, na verdade, nem sei por onde começar a perguntar qual o lado correto para a saída, mas uma coisa é certa, o limite da tolerância já foi ultrapassado a muito tempo, e a luz que existia, não está mais à frente para nos guiar, também já ficou para trás.
Encerro meditando com as palavras de Fritz Utzeri, quando comentou o ataque terrorista às torres gêmeas em 11 de setembro de 2.001, no belíssimo artigo intitulado “Quem cria lobos...”: “A historia da humanidade não é uma linha ascensional contínua em direção a luz ou a razão. Podemos muito bem caminhar para trás, apesar (ou talvez por causa) de nossa imensa tecnologia e nosso poder. Roma e o mundo romano em seu auge eram muito melhores do que a Europa em grande parte da Idade Media” (Leia todo o artigo).