§ - Em dezembro de 1988, Bill Clinton,
presidente norte-americano, respondeu a um processo por perjúrio, tudo porque
negou que tivera uma aventura sexual com uma estagiária da Casa Branca, Monica
Lewinsky.
“Eu não mantive relações sexuais com
aquela mulher, a srta. Lewinsky. Nunca mandei que ninguém mantivesse, nunca.
Essas acusações são falsas. E eu preciso voltar a trabalhar para o povo
norte-americano”.
Ao que parece, Clinton estava convicto
ou convencido que não mantivera relações sexuais com a estagiária da Casa
Branca, todavia, conforme Monica admitiria mais tarde, teria praticado com seu
presidente atos diversos, por parte dele com um charuto e dela pela via oral
enquanto o mandatário falava ao telefone com dois congressistas, todavia, sem
que o então presidente tivesse chegado ao orgasmo.
Enfim, na lógica de Clinton ele não
faltara com a verdade, sexo oral não era traição a sua esposa Hillary, desde
que parasse antes de chegar ao orgasmo.
§ § - Divulgada a lista dos políticos
envolvidos na “Operação Lava Jato”, nessa primeira etapa, figuram 47 políticos
que serão submetidos a inquérito policial conforme autorização do Ministro Teori Zavascki, deste modo, o Supremo Tribunal Federal autorizou
que as investigações avançassem além das indicações feitas por delatores
premiados no processo originário, permitindo um aprofundamento que poderá gerar
consequentes ações penais.
As primeiras reações dos
citados seguiram um mesmo diapasão, embora alguns tenham preferido o silêncio
inicial, enquanto outros tenham “cagado e andado” para as imputações,
basicamente, quase todos negaram qualquer envolvimento com o recebimento de
valores desviados da Petrobras.
Nesta leva de primeiras
explicações, enquanto há quem se afirme indignado, outros querem dar “explicações
à luz do dia” sobre sua inocência, enfim, diante da presunção de inocência, vale
a máxima: ninguém é culpado até que seja provado num devido processo sua
conduta ilícita.
Em linhas gerais, todavia,
já se esboçam argumentos que parecem ser a tônica defensista da maioria dos
investigados, qual seja, ainda que venha a ser provado o recebimento de
dinheiro para financiamento pessoal ou de campanha, desviados da Petrobras
através de manobras contratuais criminosas, seus recebedores alegarão desconhecimento
de suas procedências espúrias, assim, caso a negativa da autoria não vingue
como tese, esperam o benefício do desconhecimento do ilícito, ou seja, em “juridiquês”,
pretendem afastar o dolo por erro sobre elemento constitutivo do tipo.
§ § § - Lindbergh Farias,
senador petista pelo Rio de Janeiro, apontado na “Operação Lava Jato” como um
dos recebedores do dinheiro da Petrobras resolveu dar algumas explicações
públicas.
Hoje (08.03.15), a Folha
de São Paulo trás as declarações do senador “cara-pintada” (1992), daquilo que seria a justificativa do
recebimento de dinheiro oriundo da intermediação de Paulo Roberto Costa em
2010, quando este era diretor da estatal.
Justifica o senador na
matéria, que para ele o dinheiro (R$ 2 milhões) foi doado legalmente pela
empreiteira Andrade Gutierrez; que, quanto a Paulo Roberto Costa, “eu sabia que
ele era uma pessoa muito bem relacionada na Petrobras e perguntei se ele
conhecia alguma empresa que pudesse me receber. Ele ligou para alguém na
Andrade Gutierrez e pediu para me receber”; e, quanto ao dinheiro recebido,
afirma: “Você acha que alguém disse: ‘Olha esse dinheiro aqui que eu vou te
ajudar é uma propina?’ Isso não existe”, e conclui, “Como eu poderia saber que
o dinheiro de uma empresa grande estava saindo para minha campanha de um
processo como esse? Eu não sabia. Ninguém sabia disso”.
Portanto, o senador
caçador do “caçador de marajás”, reconhece que esteve na sede da Petrobras para
pedir doações, interpretando tal como um Bill Clinton sua conduta: “De fato,
você pode até dizer que é impróprio. Só que não ilegal”.
§ § § § - Sem dúvida, que
o recebimento de valores de um empreiteira para financiamento de campanha não
fere o aspecto legal; da mesma forma, face a presunção de inocência, não se
pode imputar de forma definitiva que o senador ou outros agentes políticos
envolvidos na “Operação Lava Jato” tenham agido com consciência de tratar-se de
dinheiro obtido na sua fonte de maneira criminosa; legalmente, portanto, as
imputações estão cobertas de dúvidas, que se espera sejam aclaradas no
aprofundamento das investigações.
Todavia, em que mundo de
ingenuidade vive o senador Lindbergh ou quer que as pessoas acredite que ele
vive? Quantas pessoas possuem trâmite junto a uma diretoria de estatal, para
que possa pedir dinheiro destinado ao financiamento de seus projetos políticos?
De onde imaginou que brotaram os valores que foram doados?
“Essas empreiteiras
ligadas à Lava Jato fizeram mais de 60% das doações nas últimas campanhas. Se
eu recebo dinheiro de uma grande empresa, nunca passou pela minha cabeça saber
se era ilícito ou não era”.
As justificativas embora
aparentemente não ilegais, extrapolam o que pretende reduzir a “impróprio”, o paradoxo que revela parece ser
grave, ainda mais quando se pretende a construção de valores sociais, destarte
quando praticado por agentes políticos: a legitimidade da ação defendida emerge
exclusivamente da legalidade, ou seja, qualquer prática é válida quando não
encontra barreira legal. Afinal, o importante é que não seja crime.
Desta forma, a malandragem
de “furar” uma fila de idosos ou receber dinheiro criminoso sem indagar sua
procedência, são condutas aceitas e impassíveis de reprimenda. Nesse vale tudo,
desideratos morais são abdicados em nome da legalidade, não há compromissos individuais
ou republicanos, senão com a certeza moral da lei, substituta de valores
pessoais, ou com sua distorcida interpretação. Portanto, em prestigio a esta
lógica autodestrutiva, resta somente uma pergunta a ser respondida pelo senador
e demais envolvidos: foi sexo ou apenas um boquete?
Um comentário:
Ótimo!!!
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