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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

15 junho, 2014

A Dilma censurou a vaia


Depois da Copa das Confederações de 2013, nunca mais uma abertura de competição esportiva será a mesma no Brasil, descobriu-se na ocasião, com o apupo a Presidente Dilma, que o respeitoso protocolo “exigido para ocasião” pode ser rompido pela multidão, quando percebeu outro canal de protesto para insatisfação com seus governantes, levando a classe política a refletir sobre a tradicional estratégia populista de se valer do esporte como trampolim eleitoral.

O que aconteceu em 2013, prenunciava que as vaias novamente aconteceriam na abertura da Copa de 2014, ou seja, as vozes que ocuparam as ruas em julho de 2013 e não foram atendidas, entrariam estádio a dentro e demonstrariam suas insatisfações com o modelo de Estado e gestão, bem como seus resultados e representantes.

As vaias da Copa de 2014 eram manifestações tão certas e esperadas, que após a Copa das Confederações iniciou-se um processo de silencia-las por vias oblíquas, não pela via da violência militar como se tentou e ainda tentam calar as insatisfações das ruas, mas através de estratégias e blindagens da presidência que ao final se mostraram ineficazes.

Se não havia condições de se aportar ao lado de cada torcedor nos estádios um policial, com seu tubo de gás de pimenta e uma escopeta lançando balas de borrachas ao sinal de qualquer desrespeito, a solução seria não criar oportunidades para que acontecessem outras manifestações como antes, ou seja, os articuladores do governo resolveram adotar a clássica solução de “tirar o sofá da sala”. 

Ao sacrifício de sua própria imagem internacional, ficou decidido que a Presidente da República não abriria os jogos, não falaria nada, senão em rede nacional de rádio e televisão as suas vésperas, em situação estrategicamente confortável de quem fala e não ouve em contradita, portanto, frustrando seus opositores, silenciando sua manifestação, enfim, censurando as vaias.

Ocorre que, do mesmo modo se para cada ação corresponde uma reação (lei irrevogável da física), na política a coisa não é muito diferente no seu resultado, ou seja, quanto mais se fecham os canais de manifestação e diálogo com a sociedade, mais radicais ficam as reações e as consequências passam a ser imprevisíveis, parece que a militante do passado esqueceu disso quando virou a Presidente.

Agora leio, vejo e ouço na mídia diversos analistas e políticos se pronunciando sobre os xingamentos, como agressões chulas à Presidente, alguns dizendo que a falta de respeito no jogo de abertura da Copa maculou a imagem do país, até porque quem estava lá não era a chefe de um governo ou representante de um partido político, mas a Chefe de Estado representando o Brasil, todavia, por coerência com o que estou cotejando tenho que discordar.

A Presidente da República ao se livrar da assuada esperada, se acovardou de falar e olhar nos olhos de milhões de brasileiros, enfrentando as perguntas que se recusa a responder, senão em monológia cadeia nacional de rádio e televisão; os xingamentos, portanto, por mais mal educados que tenham sido são proporcionais a dureza da censura imposta (ainda que de forma transversa) aos brasileiros e brasileiras, alguns inclusive, que naquele momento dos palavrões, estavam tomando bordoadas de cassetetes nas imediações dos estádios, pelo fato de vaiarem o governo, suas ações e omissões.

A Dilma censurou e foi censurada, abusou e foi abusada, agrediu e foi agredida, enfim, por mais que o Planalto tenha tentado, não consegui revogar a Terceira Lei de Newton.



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