Minhas opiniões e publicações, expostas neste espaço, são reflexões acadêmicas de um cidadão-eleitor, publicadas ao abrigo do direito constitucional da liberdade de expressão

"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

12 fevereiro, 2012

Resta-me pouco tempo

Retorno de uma consulta médica esta semana com um triste diagnóstico, meu estado é grave, terminal, tenho pouco mais de 40 anos de vida pela frente, no máximo 50 se me cuidar.

Após a surpresa da notícia, como meu tempo é curto, ponderei quais providências urgentes devo tomar, quais serão minhas prioridades de agora em diante, até que o anunciado momento se apresente, então, resolvi enumerá-las:

Primeiro, resolvi dar destino melhor ao meu patrimônio, de agora em diante andarei mais de motocicleta e desprezarei com afinco o automóvel, prefiro o vento no rosto desprotegido, que a artificialidade do ar em segurança; da mesma forma, dormirei mais de janelas abertas e me preocuparei menos em trancar as portas, afinal, não há nada que possam levar que o tempo já não leve.

Assim, também, seguindo a mesma lógica, deixarei me envolver um pouco mais por sorrisos fáceis e desconfiarei um pouco menos das pessoas; com tão escasso tempo pela frente, qual a importância tem a diferença entre ser querido ou amado por meus convivas.

Preferência na fila só para os amigos; mulher, filhas, mãe e familiares devem entender, o pouco que me resta não pode ser gasto com tricas e futricas domésticas, porém, há uma única ressalva nesse ponto, todos ganham prioridade quando o assunto versar sobre amor, alegria ou gerar boas gargalhadas.

Prosseguindo em minhas últimas medidas, como prioridade, contratarei uma empresa especializada em atendimento a reclamações, este call centre será responsável por solucionar os pequenos pleitos do dia a dia, assim, deixarei de perder tempo discutindo lâmpadas queimadas, seguros, contas indevidamente cobradas ou qualquer outra relação conflituosa que atrapalhem o amor, a alegria e as boas gargalhadas.

Resolvi também, que devo deixar alguma marca de passagem pela vida, portanto, trabalharei e estudarei cada vez mais nesses últimos tempos, todavia, não admitirei nenhuma atividade que entre em conflito com todas as outras decisões.

Simples medidas serão importantes para mim: brindarei, falarei e comerei mais e melhor, sempre com alguém que esteja disposto a repartir emoções e experiências de sua vida; também já está decidido, não perderei tempo com qualquer tipo de preparação física, afinal, se me resta tão pouco, porque perder tanto tempo endurecendo um corpo para que seja consumido pela terra.

Serei fiel a uma só ambição: toda alegria do mundo deverá ser conquistada e consumida, não guardarei nem um pouco para depois, não serei surpreendido pelo ocaso com nenhum patrimônio emocional escondido na gaveta de carnês e prestações.

Por fim, nada de textos longos ou complicados, darei preferência as frases e intervenções diretas, claras e sem dupla interpretação ou sentido, não tenho mais tempo a perder, afinal, resta-me pouco tempo, no máximo 40, com sorte 50 anos pela frente.



3 comentários:

Alexandre Pinheiro disse...

Que o amigo sempre utilize esse pouco tempo com sabedoria. Aliás, temos só esse restinho de ano para beber alguns cafés.

Bruna Barbosa disse...

Dentre todos que já li aqui, esse é o que mais gostei! haha Estou devorando seu blog e seus textos, são incríveis.

Ozéas disse...

Obrigado pelas palavras Bruna, não tenho por onde agradecer senão por aqui mesmo.