Ontem resolvi dar um passeio pela XV Bienal do Livro, que está acontecendo até dia 11 no Riocentro, Barra da Tijuca.
Deixando algumas coisas bem claras: 1) não gosto desse tipo de evento, até porque, bienal de livro soa para mim com uma conotação que livro deve ser visitado a cada dois anos, assim como a gente vez por outra se lembra, que existe um zoológico na cidade, o que por sua vez não nos torna biólogos, com nossos olhares curiosos e espantados em nossas visitas esporádicas; 2) não gosto desse tipo de evento, onde se aglomeram as pessoas em multidão, creio, honestamente, que toda multidão passa por um processo de mediocrização instantânea, mais ou menos, como se todos os neurônios presentes na ocasião se tornassem num grande sistema pensante, porém, com o equilíbrio mediano de seus contribuintes de suas inteligências, infelizmente, multidão e livros no Brasil, não são coisa tão intimas e harmônicas, me causa certa reserva ver uma pessoa comprando livros a 4 X R$ 10,00, só para dizer que consome cultura, mas na verdade está comprando “estante a metro”; 3) por fim, não gosto desse tipo de evento, onde as escolas numa demonstração de legitimação de suas ações, perante a família e direções, entopem ônibus com crianças e as enviam para o “centro da cultura”, entretanto, desprovidas de guias preparados ou sem paciência (professores) para lhes dar um caminho a ser percorrido, as deixam limitadas às bancas de revistas repletas de “Rebeldes”, “Glees”, “Capricho”, “Todateen”, ou dependendo da idade, aos livrinhos pintados em cores reluzentes com estórias repetidas e copiadas em série, num processo sem criatividade nenhuma, mas prontas a serem consumidas a preços baixos como se fossem algo de valor inestimável, assim como os hambúrgueres, crepes e pizzas que disputam o espaço do evento nas enormes “praças de alimentação”.
Poderia ficar listando outros exemplos de minhas reservas, mas não é bem esse o propósito dessas parcas linhas, até porque, visitei o evento, com dia e horário escolhidos criteriosamente; quem em sã consciência estaria numa terça-feira, entre 18 e 22h, véspera de feriado, caminhando pelos três enormes pavilhões e seus expositores além de uma meia dúzia de gatos pingados, que quisessem pacientemente examinar algumas prateleiras invisitáveis no feriado e final de semana? Acertei na mosca, sem problemas para estacionar, da mesma forma para comprar a entrada (R$ 12,00 a inteira e R$ 6,00 a meia), bem como para entrar e caminhar por avenidas largas e despovoadas daquela multidão consumista, que certamente vai invadir o local nos próximos dias.
Na companhia de meu amigo e co-autor em alguns artigos, o Ricardo Ventura, iniciamos nossa jornada pela Editora da Universidade Federal de Minas Gerais, bons indícios se prenunciavam, encontrei “O Sacramento da Linguagem” do Agambem por R$ 22,00; mais a frente no Instituto Piaget outra jóia “Direito e Moral” de Jüngen Habermas por R$ 23,00; tudo indicava que nosso garimpo seria profícuo e nossa ida não teria sido em vão. Qual nada, logo depois desses primeiros achados, muita decepção.
Os editores responsáveis por publicações mais “encorpadas”, além de alguns raros, não estão presentes na feira, muito pelo contrário, em matéria de publicações, as universidades públicas é que diferem no evento, no mais o que se pode notar é a presença de muitos distribuidores comuns e fáceis de serem encontrados pela internet (Travessa, Saraiva etc.), onde inclusive, expõem seus produtos de forma mais organizada e até com preços mais em conta, mesmo considerando o frete.
Ou seja, a Bienal ficou com cara de um grande encontro de livrarias, que disputam o mercado em um grande Shopping Center, verdadeira “indústria cultural”, onde as presenças “marcantes” ficam por conta dos livros de auto ajuda, estorinhas infantis plagiadas e sem direitos autorais a serem pagos e, metade de um pavilhão disputado pelas editoras religiosas (evangélicas, católicas e afro-religiosas).
O contraste entre grandes e pequenas livrarias também é marcante, algumas ocupam posição central nos pavilhões, com área equivalente a dezenas de pequenos livreiros, perdidos em cantos ou espremidos entre os gigantes.
Sem dúvida, que em razão do dia e horário escolhido, os encontros e palestras com os escritores que por lá aparecerão ficou prejudicado de avaliação, mas no todo, o evento deixa muito a desejar.
Por outro lado, não perdendo a viagem e aproveitando o espírito consumista a que se propõe o evento, aproveitei para adicionar em minhas prateleiras alguns autores que realmente já me eram devidos, que decorrente da pouca procura de massa, puderam ser “achados” por preços convidativos (Thoreau, Stuart Mill, Comte, Engels, Nietzsche e Hunter Thompson), no total não gastei mais de R$ 150,00 em treze obras; nesse saldo de balanço fica meu elogio ao encontro.
No mais, não duvido do que será o final do evento até domingo, muita gente, muita gente, muita gente mesmo, andando de um lado para o outro, disputando cada centímetro de espaço na sua caminhada pelos expositores, porém sem o conforto que tive devido a escolha do dia para minha ida e sem a condição de pacientemente, poder bulinar em cada estante alguma coisa que seja de seu interesse.
Para quem não teve a oportunidade de ir, fica minha sugestão: “não sei” se vale a pena ou não essa maratona a partir de sexta-feira, talvez quinta ainda dê para fugir dessa grande “visita ao parque” (com direito a cachorro quente, pipoca e coca-cola), que se tornará o Riocentro de final de semana; é possível que quinta, nesse horário noturno do “macarrão com galinha”, ainda seja viável uma fugida do furacão que aquilo se tornará, porém, jamais recomendaria o sábado e muito menos domingo, a relação o custo benefício é profundamente deficitária e, a XV Bienal do Livro no Rio de Janeiro deixa muito a desejar para tanto sacrifício.
Um comentário:
Há muito não leio um texto tão inteligente.
As Bienais só servem p/ enriquecer as empresas que a realizam.
A da Bahia,este ano,é de uma mediocridade de doer.
Tô fora.
Abç
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