Woodstock representou entre tantos significados, um movimento contracultural de resistência a um domínio imperial, pretendido a se instaurar no mundo a partir de uma disputa bipolar, envolvendo dois eixos ideológicos, capitaneados pela então URSS e EUA, que buscavam expansão de suas influências hegemônicas, nos idos da sexta década do século passado.
Um bom argumento sobre a história do evento pode ser encontrado no filme, “Aconteceu em Woodstock”; também não faltam informações disponíveis na própria internet; particularmente recomendo o filme, lá se pode entender todo o processo de realização do encontro, sem que, contudo, o principal personagem tenha assistido a uma apresentação sequer. Fica a dica para o fim de semana, para você, que também não vai ao RR 2011.
De 1969 pra cá, todos tentam de alguma maneira copiar a fórmula aglutinadora, que na ocasião, reuniu mais de meio milhão de pessoas numa fazenda, no interior do estado de Nova York, para assistirem a um festival inicialmente anunciado como "Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música", mas que, porém, não conseguem o magnetismo que estava presente na ocasião.
Também pudera, como reunir novamente num só evento, gente do calibre de Janis Joplin, Creedence, Santana, The Who, Joe Cocker, Johnny Winter, Edgar Winter, Jimi Hendrix, além de outras duas dezenas de não menos especiais músicos, bandas e cantores; isso sem contar as próprias condições históricas, que motivavam as cabeças transformadoras e encaracoladas dos hippies e alternativos.
Nessa busca pelo inatingível, surgiu o Rock in Rio, lá na década de 1985, organizado por Roberto Medina, empresário do meio artístico, que conseguiu com um projeto audacioso reunir um público total estimado de 1,5 milhões de pessoas, que embora expressivamente maior que Woodstock, representavam os vários públicos dos nove dias do evento.
As bandas, cantores e músicos na sua primeira edição foram escolhidos com um padrão e critério, bastando ver as atrações que se apresentaram: AC/DC, Iron Maiden, James Taylor, Ozzy Osbourne, Rod Stewart, Yes, Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Eduardo Dusek, nomes que servem para mostrar o “naipe” do encontro.
O Rock in Rio I, tinha esse espírito inicial, embora não nos enganemos, a família Medina arriscava em mais um negócio, desta feita, num empreendimento realmente grande, também não tenho dúvidas em afirmar, que eles imaginassem as proporções comerciais consagradas na magnitude atual; por outro lado, de forma crítica, não podemos perder a perspectiva do negócio que se formou, próprio da “indústria cultural”, já denunciada por Adorno e Horkheimer na década de 1944 (“O que é o esclarecimento”), é nisso que se transformou o Rock in Rio, nada além de um grande show, com vários e vários artistas, dos mais diferentes segmentos e estilos, portanto, feito para agradar a todos, porém, sem uma identidade.
Observando a grade de programação do RR 2011, me assusto ao ver misturado em uma só “pajelança”, nomes como os de Claudia Leite, Elton John, Rihanna, Sepultura e Stevie Wonder, só para ilustrar. Sem preconceitos, mas o que falta ai é identidade com o rock, isso não tem cara de festival de rock, é um grande encontro, que para ser encarado, deve-se usar no mínimo de uma seletividade identificadora, o que por suas proporções e distribuição pelos diversos dias, fica impraticável diante de um custo não tão barato.
O RR 2011 é isso, vários artistas, concentrados em um só momento, em um só lugar, porém, que sequer uns saibam da existência da “obra” dos outros, lhes falta um objetivo comum, pior, existe um único objetivo, cahês polpudos pagos pela mega organização do evento, que já na origem tinha o mesmo propósito, mas que com o passar dos anos, se deixou seduzir pela parceria existencial com a Rede Globo, influente instrumento da mídia nacional, capaz de paralisar uma cidade inteira para garantir seus ganhos, até porque, num círculo autoreferencial, a Globo cria o evento, convence que é bom, trafega nas vias do poder público e depois vende em embalagem platinada e esterilizada seu produto.
Não é saudosismos ou revive de um Woodstock, que não acontecerá mais, mas é por pura coerência com a própria história do rock e seu significado libertador de toda uma geração, que tolida de sua expressão usava da música e da arte em geral, para expressar suas angustias pela paz, pelo amor e pela liberdade. É por isso que encho a boca para dizer “Eu não vou ao Rock in Rio
Um comentário:
Gostei muito desta matéria e o naipe dos artistas que se apresentaram é de peso. Mas acrescente o seguinte: a batalha para se chegar ao local, as horas em pé com um empurra empurra certeiro e a sede. A sede sim, pq se a pessoa beber qualquer coisa o acesso ao banheiro público é outro sacrifício. E a volta, meu amigo?? Já pensou nestes problemas práticos que nos afastam deste tipo de evento?
Ou então estamos velhos demais para isso. O tempo nos serve para muitas coisas mas para uma volta à juventude já é demais para se forçar.
Um grande abraço, Angela
Dá uma olhadinha: www.planeta-sol.blogspot.com
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