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"Por favor, leia devagar." (Ferreira Gullar)

19 junho, 2015

O plágio é ladrão



Não há meias palavras nesta situação, quem se apropria das ideias dos outros e não faz menção, não passas de ladrão.

Já tive a oportunidade de desabonar uma candidata em sua qualificação doutoral por plágio, isso mesmo, a candidata apresentou para análise uma suposta tese que seria defendida no mês seguinte, com vários parágrafos reproduzidos de uma “cartilha” de curso online de outra universidade.

Pois é, mas a coisa não parou por ai, apontado o vexame a candidata a doutora fez questão de afirmar que o material copiado e colado realmente já teria sido utilizado, todavia, que o mesmo era de sua autoria quando da elaboração daquela “cartilha” de graduação, ou seja, se fugiu por uma porta acabou encurralada na sua própria justificativa, o plágio virou autoplágio e a insinceridade permaneceu.

Entretanto, só para investigar um pouco mais a atitude, em nova pesquisa encontrei na Bahia uma dissertação que se valia do mesmo material, portanto, a única dúvida que restou era saber quem copiou de quem primeiro, no mais, pelo menos duas cópias aconteceram com certeza.

Porém, não é só no mundo acadêmico que isso acontece, em um campo mais próximo que me aventuro a comentar, também se seguem as cópias no mundo jurídico, onde as petições mais parecem ter saído de uma máquina de Xerox e quando muito são modificados somente os nomes das partes. As petições dos manuais e na internet deixaram de servir de modelos e passaram a ser a própria Ação a ser distribuída.

Há ainda as denúncias que recortam e colam argumentos e também servem de exemplo, na maioria das vezes creditadas ao despreparo dos estagiários que falam pelo parquet, e estes incentivados à aventura por seus guias, os ainda alunos de Direito despreparados para o exercício pleno da função, sem outro recurso senão repetir fórmulas consagradas no HD do computador ou na internet, acabam por contaminar o processo com falhas e operacionalizar o órgão como uma fábrica de acusações infundadas.

Da mesma forma muitas sentenças são proferidas por serventuários mais dedicados, que ocupam a toga temporária em nome da celeridade processual ou quem sabe dos cargos gratificados.

Lembro quando em certa feita um juiz me falou orgulhoso ter proferido mil sentença naquele mês, confesso que fiquei impressionado não com a eficiência, mas com a irresponsabilidade jurídica diante da sua obrigação de fazer justiça, afinal, “se cada caso é um caso”, por certo que é impossível analisar cada um dos mil com a devida atenção em um só mês.

A questão portanto, diante dessa avalanche copista é perguntar onde começamos a nos acostumar com a apropriação indevida de ideias; quando nos habituamos a ler, gostar e levar pensamentos sem o devido crédito; por que achamos normal que todas as perguntas acabem por ser respondidas somente uma vez e estas se adequem de forma distorcidas a propósitos utilitário-instrumentais; e, em que resultará um modelo reprodutivo científico, cujo conteúdo não possui referência autoral que sirva à analise de sua trajetória e credibilidade?

Ademais, no final das contas a viger esse padrão, como círculo auto-referencial, estaríamos aos poucos deixando de pensar e passando a nos acostumar com a reprodução em intensidade industrial virtualizada, as cópias tornadas modelos de respostas, prontas e irreflexivas nos deixariam parados no mesmo lugar, não haveria condições de progresso ou avanço, somente reprodução do modelo.

São tempos difíceis e tentadores – outros a sua época devem ter sido também –,  quando com poucas palavras no Google encontramos argumentos capazes nos fazer  graduados, mestres, doutores, advogados, promotores, juízes, cientistas.... Difíceis sob o ponto de vista moral, entretanto, fáceis quando o que se pretende é se livrar do Processo, do TCC, da Tese...

Pois bem, quando recebo um trabalho acadêmico fraco, sento e converso com meu aluno, afinal, se ele foi mal pior fui eu que o orientava e não percebia suas dificuldades, todavia, quando recebo um plágio, fico decepcionado e não me vejo responsável, ao contrário, sinto o dever de denunciar a cópia e descredenciar o candidato, afinal, qualquer forma de complacência com essa prática no mínimo servirá de incentivo para futuras tentativas e quem sabe um dia, justificará um tese, uma sentença, uma denúncia, uma apelação...



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