Não há meias palavras nesta situação, quem se apropria das
ideias dos outros e não faz menção, não passas de ladrão.
Já tive a oportunidade de desabonar uma candidata em sua
qualificação doutoral por plágio, isso mesmo, a candidata apresentou para
análise uma suposta tese que seria defendida no mês seguinte, com vários
parágrafos reproduzidos de uma “cartilha” de curso online de outra
universidade.
Pois é, mas a coisa não parou por ai, apontado o vexame a
candidata a doutora fez questão de afirmar que o material copiado e colado
realmente já teria sido utilizado, todavia, que o mesmo era de sua autoria
quando da elaboração daquela “cartilha” de graduação, ou seja, se fugiu por uma
porta acabou encurralada na sua própria justificativa, o plágio virou
autoplágio e a insinceridade permaneceu.
Entretanto, só para investigar um pouco mais a atitude, em
nova pesquisa encontrei na Bahia uma dissertação que se valia do mesmo
material, portanto, a única dúvida que restou era saber quem copiou de quem primeiro,
no mais, pelo menos duas cópias aconteceram com certeza.
Porém, não é só no mundo acadêmico que isso acontece, em um
campo mais próximo que me aventuro a comentar, também se seguem as cópias no
mundo jurídico, onde as petições mais parecem ter saído de uma máquina de Xerox
e quando muito são modificados somente os nomes das partes. As petições dos
manuais e na internet deixaram de servir de modelos e passaram a ser a própria
Ação a ser distribuída.
Há ainda as denúncias que recortam e colam argumentos e
também servem de exemplo, na maioria das vezes creditadas ao despreparo dos
estagiários que falam pelo parquet, e
estes incentivados à aventura por seus guias, os ainda alunos de Direito
despreparados para o exercício pleno da função, sem outro recurso senão repetir
fórmulas consagradas no HD do computador ou na internet, acabam por contaminar
o processo com falhas e operacionalizar o órgão como uma fábrica de acusações
infundadas.
Da mesma forma muitas sentenças são proferidas por
serventuários mais dedicados, que ocupam a toga temporária em nome da
celeridade processual ou quem sabe dos cargos gratificados.
Lembro quando em certa feita um juiz me falou orgulhoso ter
proferido mil sentença naquele mês, confesso que fiquei impressionado não com a
eficiência, mas com a irresponsabilidade jurídica diante da sua obrigação de
fazer justiça, afinal, “se cada caso é um caso”, por certo que é impossível
analisar cada um dos mil com a devida atenção em um só mês.
A questão portanto, diante dessa avalanche copista é
perguntar onde começamos a nos acostumar com a apropriação indevida de ideias;
quando nos habituamos a ler, gostar e levar pensamentos sem o devido crédito;
por que achamos normal que todas as perguntas
acabem por ser respondidas somente uma vez e estas se adequem de forma
distorcidas a propósitos utilitário-instrumentais; e, em que resultará um
modelo reprodutivo científico, cujo conteúdo não possui referência autoral que
sirva à analise de sua trajetória e credibilidade?
Ademais, no final das contas a viger esse padrão, como
círculo auto-referencial, estaríamos aos poucos deixando de pensar e passando a
nos acostumar com a reprodução em intensidade industrial virtualizada, as
cópias tornadas modelos de respostas, prontas e irreflexivas nos deixariam parados
no mesmo lugar, não haveria condições de progresso ou avanço, somente reprodução
do modelo.
São tempos difíceis e tentadores – outros a sua época devem ter sido também –, quando com poucas palavras no Google
encontramos argumentos capazes nos fazer graduados, mestres, doutores, advogados,
promotores, juízes, cientistas.... Difíceis sob o ponto de vista moral,
entretanto, fáceis quando o que se pretende é se livrar do Processo, do TCC, da
Tese...
Pois bem, quando recebo um trabalho acadêmico fraco, sento
e converso com meu aluno, afinal, se ele foi mal pior fui eu que o orientava e
não percebia suas dificuldades, todavia, quando recebo um plágio, fico
decepcionado e não me vejo responsável, ao contrário, sinto o dever de
denunciar a cópia e descredenciar o candidato, afinal, qualquer forma de
complacência com essa prática no mínimo servirá de incentivo para futuras
tentativas e quem sabe um dia, justificará um tese, uma sentença, uma denúncia, uma apelação...
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