Good
Morning, Vietnã! Segunda-feira é um bom dia para mudar, recomeçar; creio que em algum
momento seremos forçados a olhar as coisas sobre uma perspectiva de preservação da existência, melhor que ser compelido é fazer por opção, portanto, que tal começar hoje mesmo?
O
Renascimento é conhecido como o período que o homem se redescobre, abandonando
paradigmas medievais que governavam o pensamento ocidental, todavia, conforme
nos ensina Hilton Japiassu, “sua inspiração fundamental pouco ou nada teve de científico.
Ela [a época] foi marcada por um ideal eminentemente retórico, diz A. Koyré,
supervalorizando as letras e as artes. Foi uma época pouco dotada de espírito crítico
e povoada das mais grosseiras superstições...”
Por
sua vez, somos homens da modernidade, inspirados na crença da razão cientifica
como guia de nossas ações, inclusive, há quem acredite e fale estarmos numa
“pós-modernidade”, posição que não comungo, isto porque, os ideais
emancipatórios do ser humano, que representariam a modernidade, jamais foram
concluído, desta forma, ombreio-me ao conceito habermasiano de “modernidade tardia”. Mas esse não é o caso
no momento, resolver se estamos em “pós”, “alta”, ou “reflexiva” modernidade, a
questão é que somos pelo menos, aquilo que filosoficamente se denomina homens
modernos, homens da ciência.
Pois
bem, se olharmos para trás, bastam os últimos cinquenta anos, para afirmarmos que
assim como no Renascimento, nosso mundo estava repleto de superstições e
crendices sobrenaturais, portanto, o homem de ciência de meio século (ou pouco
mais), enfrentava a irracionalidade como adversária de seus postulados
racionais. As bruxas e demônios renascentistas, ainda habitavam a terra, mesmo
que clandestinamente, porém, continuavam a atormentar as mentes mais crédulas de
suas existências.
Façamos
uma observação: estabelecemos meio século como parâmetro, de maneira
arbitrária, até porque ainda habitam entre nós ocidentais, milhões de pessoas
que entregam seus destinos a forças desconhecidas e transcendentais, porém, os
avanços tecnológicos dessas últimas décadas, tem causado significativas baixas
nas concepções metafísicas, destarte, ainda que se tenha no Cosmos a revelação
da verdade ou o sentido da vida, a participação da ciência já é indiscutível no
cotidiano humano.
O
fim do mundo, prenunciado em calendários alegóricos de povos extintos, meteoros,
vulcões, furacões, previsões de Nostradamus e tantos outros profetas, não
aconteceu, inobstante, fizeram com que a indústria cultural ganhasse um pouco
mais com livros, revistas, filmes, televisão etc.; ultrapassadas várias e
várias vezes as datas fatídicas, que agora ficaram sem crédito para novas
esperas, a humanidade segue seu caminho, creio, que pela primeira vez em séculos, sem um
dia fixado para o fim dos tempos, destarte, estamos entregues a nossa própria
sorte, ou melhor, as nossas próprias razões.
E,
exatamente, nesse momento em que o homem avança para assumir as rédeas de sua
trajetória como espécie que, contraditoriamente, passamos a correr maiores
riscos, não por castigo divino ou coisa que o valha, mas porque junto com a
emancipação científica, também estamos agimos da maneira mais irracional
possível, sugando ao limite todas as condições de vida planetária e estabelecendo
abismos sociais inadmissíveis e perigosos.
Não
faltam cientistas sociais, economistas, filósofos, geógrafos, ambientalistas e
tantos mais, para dizer que nosso caminho está cada vez mais perigoso; nossa
via de ida está tão acelerada, que corremos sério risco de não conseguir frear
na próxima curva um pouco mais acentuada; inclusive, para muitos, a colisão eminente é questão
de tempo, isso porque, ainda que iniciássemos qualquer manobra reversível, esta
seria tardia e inócua.
Nunca
tivemos tanta capacidade de previsão dos acontecimentos, as tecnologias
contribuem significativamente para cálculos precisos de gastos, custos e
benefícios; temos condições de saber o impacto que mínimas ações podem causar
na economia, no meio ambiente, na saúde, enfim, se erramos é porque queremos,
somos responsáveis por nossas inconsequências.
As
gerações passadas tinha o hábito de acumular para as gerações futuras, pensavam
em construir uma sociedade melhor para os que chegassem, por exemplo, famílias
juntavam patrimônios, construíam poupanças, investiam em educação, sacrificavam-se
para que os filhos tivessem uma vida melhor; nossa geração atual inverte os
papéis, os pais sugam o futuro de seus filhos, consomem e acumulam coisas que
serão obsoletas em poucos meses, depredam e esgotam recursos, se endividam e deixam
para o futuro a herança da fatura material e social; nossa geração
se aproveita do mundo, bebendo até a última gota o seu suco, legando para os
que virão o bagaço chupado, cada um que se vire como puder.
Nossa
sede de consumo está destruindo o planeta e agudizando os distanciamentos
sociais, todos sabemos disso há algum tempo, todavia, não refreamos nossos
comportamentos e hábitos, é como se pensássemos em silêncio: “calma, ainda dá
para mais uma gotinha antes de parar”. Ledo engano, se todos estão espremendo
até última gota, no final, não restará nada para ninguém. Mas, parece que
ninguém quer ouvir os neoprofetas do apocalipse.
Libertos
dos desígnios cósmicos, o homem, senhor de seu destino, tripudia da razão desconsiderando
o nexo de causalidade existente entre suas ações e efeitos. Não faltam vozes de
alerta, estudos convincentes, previsões embasadas com o melhor que a técnica
pode oferecer, para dizer que chegou a hora de parar, porém, o frenesi de usar
a vida no seu limite, o consumo desmedido e desnecessário, e a ganância do
lucro absurdo e humilhante, impedem que
se possa fazer algo para evitar o pior que está por vir.
Enfim, ou
sentamos todos em uma mesa de iguais, com mínimos denominadores comuns,
estabelecendo um fio condutor de resgate planetário, respeito ao outro como
indivíduo, e melhor participação de todos nos recursos que ainda nos restam, ou
encontraremos um beco sem saída no final do caminho. A utopia tem que se tornar
meta, porque fora dos sonhos só nos resta uma realidade de difícil solução.
Termino,
novamente indo longe demais num bom dia, recordando um poema que não sei se já
postei por aqui, pouco importa, porém, bem próprio para ilustrar a situação:
Somos os dos últimos tempos
os ricos de crediário
os puros de Cursilho
os filhos de mães solteiras
Somos os dos últimos dias
os que contestam o burguês
e vivem na procura de status
os que enumeram teorias
e se engasgam com a prática
os que amam livremente
e vasculham o útero verde
na sondagem mortal
Somos os da última década
os sem dia seguinte
os de futuro incerto
os da classe média
os vermes falsos das tardes
os amedrontados
os covardes
os contraguerra
lutadores sem pátria
Somos os dos últimos anos
os ateus que casam de branco
os sonhadores artificiais
os seres da Lua
os máquina de Marte
os mortos de fome da terra
os poetas
os filósofos
os assassinos
os parasitas
Somos os dos últimos momentos
os de sangue quente
os de voz grossa
os de mãos forte
os impotentes
os filhos de pais penúltimos
os pais de filhos inúteis
Somos os das ultimas horas
os agentes poluidores
os pacientes poluídos
os comandantes
os comandados
os engarrafados no tráfico
os bêbados de fim de jogo
os troncos secos de fornalha
atômica
os pobres homens honestos
os ricos homens espertos
Somos os dos últimos segundos
os segurados
os neuróticos
os atrasados
os necrosados
os vítimas dos vigésimos
andares
os torcedores tarados
os jovens traumatizados
os desprezados
os que podiam ser
os castos
os machos
os piegas
os vitoriosos inválidos
Somos os do último século
os de nervos tensos
os de futuro negro
os de fruto pobre
os de terras secas
Somos os da última fase
a mórbida
a vingativa
a solitária
a assassina
............... fase
vital dos falsos homens sem vida
(Oráculo – Patrícia
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